domingo, 23 de março de 2014

ADORNO


Ela sorriu com quase indiferença. Seus lábios simulavam tentativas de conciliação. De longe,via-se o encantar de uma nova promessa. 
O perfil era feminino, flor amarela no laço abraçando a cintura. Os olhos como asas azuladas, quase perenes.
Suas mãos pálidas a brincar com as linhas onduladas do vestido. Era uma mulher que trazia água no olhar e um toque leve de esperança no gesticular. 
Revirou  as páginas até se cansar da leitura dos dias. O sonho adormecido em um canto qualquer remexeu-se ameaçador. Como algoz felino a espreitar a passagem do tempo,movia-se de um estado a outro, em seu trêmulo querer. 
Os cabelos caindo em ondas, perdidos em um vai  e vem monótono de mar sem fim. Quis a moça refazer laços com um instante de magia. Imaginar-se esplêndida, cortesã de desejos e santa em intenções. Respiração suspensa, abrigou o destino. Sonho querendo forçar passagem. Sem pedir licença, invadiu pensamento e argumento. 
Insistente em não mais se perder, ela ainda balançou a cabeça, sacudindo a poeira de qualquer ilusão. Pôs-se a rir como se a loucura a impedisse de se contaminar com a felicidade.
Estrelas e flores contornavam sua imagem. Era tão bela quando assumia seu riso e graça. Adorável, louca em adorno contemplada. Uma mulher, enfim.