sábado, 24 de abril de 2010

E a saga continua...



E a nossa heroina percebeu que, às vezes, tudo parece errado, fora do lugar, como cantar sozinho na escuridão. Entendeu que já vira demais nesta vida e se aproximava de um final qualquer que não corres-pondia às suas expectativas mais caras .


Num impulso, Manuela voltou à tona, meio desesperada com a necessidade de respirar e a angústia de continuar lutando sem uma razão boa o bastante. Os dias iam se acumulando na esteira dos acontecimentos. Todo mundo às vezes se esconde no breu do desconhecido, pensou quase conformada.

Ela sabia que muitas vezes, tudo parecia nublado, fora do foco, como mergulhar no fog londrino. Achava que já tinha vivido isso antes, mas de repente tudo se transformava.

Algo que nunca acontecera poderia salvar suas esperanças. O dia se iluminaria no meio de um atormentado movimento de surpresa.

Manuela nem sempre carregava suas armas. Nem sempre se acostumava com a miséria emocional. Nem sempre levantava os olhos para enxergar o seu oponente: o tempo. Por isso, às vezes, tudo se perdia na indiferença.

Quando ela considerava tudo o que já experimentara, o meio pareceu longo demais para justificar um fim que lhe parecia estranho. Tudo surgia meio assim sem cor, sem mãos dadas , sem leveza no olhar... sem risos entre cobertas quentes e macias.

E ela, que pensava que já vira mais do que o suficiente, sorriu quase envergonhada. A vida parecia fazer graça da sua falta de humor.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Meu Projeto Imbatível de Novela Mexicana - ( ou "eu também tenho meus dias de chuva").

Então, de repente, ela se sentiu sozinha. No meio do desejo de uma tarde tranquila. Foi como um vendaval atingindo suas raízes e arrancando qualquer possibilidade de sanidade. Aquilo era loucura, não havia razão para esperar mais do que ali se apresentava.

Ela olhou pela janela. Desejou que estivesse chovendo. Chovendo muito. Uma tempestade que acompanhasse seus sentimentos. Nada parecia combinar com o seu estado de espírito tumultuado e levemente ácido.

Suspirou três vezes antes de desviar o olhar da árvore da casa vizinha. Não dependia dela. Nada acontecia porque assim deveria ser.Mas o desejo é egoísta. O desejo brota de onde menos se espera , de galhos que já se julgava podados pela monotonia dos dias. O desejo agora esculpia figuras estranhas por dentro dela e exibia seu feito com o orgulho nos olhos da vítima.

O mundo apertou-se. Não havia tempestade, nem mesmo um clarão no céu. Mar distante, amante ausente. Se ao menos, ela percebesse um sinal no horizonte que indicasse que ele também sentia sua falta. No meio de um outono sombrio, no meio da sua tempestade imaginária. Mas ele estava distante e seco como um deserto sem miragens. Perdido para ela, longe demais para qualquer esperança de encontro. Sabia que ele a desejava, mas o quanto?

Embora ela tivesse lutado contra os domínios de uma paixão insólita, pouco se acostumara com as razões que o amante lhe apresentara. Não lhe importavam os detalhes racionais de uma vida regrada e assumidamente alheia dela.

Não queria mais escutar aquela ária de Miserables. Não combinava com ela se desesperar por tão pouco. Não era amor. Pelo menos não daqueles que nos levam a formar sonhos e guardá-los na gaveta. Era tão tarde. Tão tarde para não sentir nada. Tão tarde para entregar os pontos e deixar tudo se encaixar no vão dos acontecimentos.

Então ela se sentiu deserta. Não conseguiu sentir nada que a ameaça do esquecimento não levasse embora. Não havia elo suficiente. Era apenas uma mulher. E ele apenas um homem. Não era uma história de amor. Não era nada.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Otimistas x Pessimistas

O que é uma pessoa otimista? Alguém que atropela a realidade e vai espalhando margaridas pelo caminho? Não, necessariamente. Talvez, o otimista não tenha a capacidade de aceitar que as coisas dão errado, que podem sair do prumo e não ter um final feliz. Mas o otimista é legal porque geralmente está de bom humor e sorri para tudo e para todos.
O pessimista simplesmente aceita o que tem e já se prepara para tempos difíceis. Frequentemente, se intitula realista e não pessimista. Os pessimistas são cautelosos e desconfiam da sombra que bate na calçada.
Quem pode dizer quem está certo? Não acredito que haja um otimista puro ou um pessimista constante. O que acontece é que vestimos a capa da invencibilidade e às vezes vestimos uma mortalha. Tudo depende das circunstâncias e das atitudes que adotamos pelo caminho.

Se o calor não me vencer...

Às onze horas da manhã, toca o telefone. Minha amiga convidando para ir à praia com as meninas e ali tostar até as duas da tarde. Posso? Não, não posso. Não sou apenas uma moça latino americana sem dinheiro no bolso; sou um ser desprovido de melanina, sem camadas de pele dourada.  Minha realidade é outra. Poso de herdeira europeia, branca de neve com um rosado nas faces. É o que sou.
Eu e o calor não nos falamos. Nem nos olhamos, na verdade. Quando muito, nos suportamos e tenho cá pra mim, que ele nutre um profundo desdém por mim. Eu o evito e ele me abafa. Somos incompatíveis e pronto.
Por isso, nada de praia. Nem quando o mar parece tão convidativo. Aí, me lembro da virose espalhada pelas férias e a vontade de mergulhar passa. Prefiro o ar condicionado mesmo com a rinite e a conta de luz nas alturas.
Não vou à praia. Talvez outro dia, outro mês, outra vida. Enquanto isso, invejo a distância os corpos bronzeados que desfilam alegremente pela praia a caminho do mar. Definitivamente, não sou a garota de Ipanema.

Atenção: vai começar o ano !

Vamos lá, pessoal! Hora de preparar o ânimo e a coragem para mais um ano. Não, não estou atrasada, nem tive os neurônios massacrados pelo calor. Qualquer brasileiro sabe que o ano só começa mesmo depois do Carnaval. Só inauguraremos 2010 depois que o último carro alegórico passar na avenida. Cobertos de confete e serpentina, veremos a entrada do ano em março. Se tivermos mais um pouco de paciência (ou negligência) começaremos de acordo com o ano astrológico. Ano regido por Vênus, o planeta do amor.
As crianças já voltaram às aulas, mas ainda estão no oba oba do material novo, da professora novidade, das brincadeiras com os colegas e ausência de lição de casa. Não começou o ano, não disse?
Ainda estamos em 2009, arrastando correntes enferrujadas pela água salgada... Ainda estamos à beira do mar, pulando as sete ondas e clamando bençãos a Iemanjá. Nossos pés ainda estão lá ,na areia, afundando um pouco e com uma preguiça enorme de seguir em frente.
Agora, vai começar. Abram as agendas e anotem os compromissos. Começar mais uma dieta, finalmente marcar aquele exame chato, escrever algumas cartas (eu ainda faço isso), esvaziar os armários e gavetas. É começo e tanto faz onde começa. Começa quando você quiser. Rasgando as páginas do que já foi e alisando as folhas em branco. Começa aí o ano da sua vida. O nosso ano que não pede licença , mas vai abrindo alas. Feliz Ano Novo!