domingo, 26 de junho de 2011

SOB NOVA DIREÇÃO E TEMAS.

Já tratei do arrependimento aqui. Já falei de remorsos. Desandei a criticar o excesso de temas repetitivos que povoam a vida alheia. Logo eu que tenho a máxima: viva e deixe viver. Gosto mesmo é da liberdade de ser o que puder ser, onde estiver, do jeito que for. Aceito em mim  a capacidade de voltar no meio do caminho, de parar e dizer: não está bom por aqui, vou pegar essa outra direção. Melhor ainda quando me permito dar meia volta sem ligar para as recriminações ou de parecer volúvel.
Ainda acho que a vida não deve ser encarada como um parque temático, só para ser uma grande vitrine de felicidade para os olhos alheios. No entanto, esqueci de mencionar que vivencio temas: de festinhas a musicais. Adoro qualquer florzinha que enfeite o cenário empobrecido do dia a dia.
Às vezes, sou uma sereia mergulhada em um oceano de fantasias de fazer inveja a qualquer lunático. Outras vezes, sou a dama em preto e branco do filme mais noir que alguém já ousou produzir. São temas, delírios e invocações. Sem falar nas mesas de festinhas de filha, sobrinhos e afins. Adorei colocar cada papel crepom, amassar papel de bala até virar matinho. Pintei, bordei, elaborei, inventei cada cenário que pudesse me convidar para mais um ato criativo. Sim, também sou feita de temas, mas procuro ser original em cada um deles para que a vida me pareça menos enfadonha e ditadora.
Se eu vou seguir um tema, ele já sabe: posso abandoná-lo no meio do caminho e dar meia volta volver.
O resultado é o seguinte: eu sobrevivo sem os temas e eles sobrevivem sem mim, mas seremos sempre parceiros no jogo do desafio criativo da vida.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Arrependimento é pecado?

Já me cansei de ouvir que ninguém se arrepende de mais nada. Virou chavão dizer "só me arrependo do que não fiz". Ainda há aqueles que, nobres conhecedores da sua própria alma, acrescentam pérolas como: não me arrependo de nada porque tudo que fiz me levou aonde estou, me tornou quem eu sou.
Claro que tudo o que vivemos nos transforma, mas vai dizer que alguns episódios não poderiam ser descartados ou, pelo menos, reciclados? Aquela palavra maldita, apressada, sem coerência e objetivo, não poderia ter sido deletada? Os erros são necessários para o crescimento, mas dizer que não se arrepende é afirmar que não se muda e se não se muda, não se evolui. Se não há evolução, o que estamos fazendo aqui? Ocupando espaço?
Eu me arrependo quase na mesma proporção de que me orgulho das minhas atitudes. E liberado o arrependimento, a vida se torna mais fluida, mais plena de possibilidades de alegria. Não preciso ser perfeita e o meu arrependimento não busca perdão. Ou talvez busque. O meu.
Se você não se arrepende perde a chance de refazer o caminho trilhado. Se você não se arrepende, emburrece, se torna estátua de sal e destino do caos.



A VIDA NÃO É UM PARQUE TEMÁTICO

Espanta-me a quantidade de temas que enfeitam a vida alheia. Outro dia, uma amiga anunciou sua gravidez ao mundo através dos meios virtuais. Logo depois, surgiram fotos ilustrando o início da gestação, o primeiro exame, as roupinhas fofas, tudo documentado e encaixado em uma moldura igual – um mundo de sonhos com ursinhos, borboletas e bebês risonhos. Caprichos de futura mamãe? Ou a tendência mundial de exposição radical?
E os casamentos atuais? Nada de uma capela pequena e poucos convidados. A flor de laranjeira deu lugar a quase um abacaxi. O exagero define-se em todos os detalhes, e pipocam fotógrafos de todos os lados. Para os convidados a imagem sagrada dos noivos é ofuscada pelos profissionais apertando-se em busca dos melhores ângulos. Tornou-se um espetáculo. O padre é mero figurante e as imagens sagradas apenas peças de cenário. É preciso documentar, registrar cada olhar, gesto e palavras dos noivos. Afinal, estamos no maravilhoso mundo dos apaixonados, o ingresso é o amor.
Até os divórcios tornaram-se tema. No Orkut, vemos as fotos das pessoas recém libertas do julgo do casamento atearem fogo nas suas memórias matrimoniais e exporem suas novas atividades. De novo, vivem em um mundo aparentemente perfeito. Vida nova, parque novo.
Festas de crianças sempre tiveram um tema. Mas era coisa simples, um enfeite no bolo e, no máximo, um painel confeccionado por uma tia mais habilidosa, além de uma mesa mais decorada. No auge da empolgação materna, uma fantasia para a criança aniversariante, obra da costureira da esquina. Hoje não, os buffets logo apresentam uma pilha de álbuns com exemplos de temas de aniversário. Os personagens vão dos mais singelos como as princesas encantadas aos assombrosos desenhos mais violentos.
E vendem.... E os pais compram tudo combinando com o tema, e os convidados entram em um mundo preparado para eles, mas sempre há alguém que reclame de algo. Afinal, nenhum parque temático resiste à crítica alheia.
A vida deveria ser mais simples do que isso. Deveríamos apenas nos preocupar em viver da melhor forma possível. Poderíamos enfeitar nosso cotidiano com flores, abraços, beijos e gentilezas. O casamento feliz não precisaria virar notícia nos meios da informática. O nascimento de um lindo bebê não se transformaria em capa de revista.
Não, a vida não é um parque temático. Apenas estamos perdidos nas possibilidades brilhantes que a mídia nos apresenta. Sucumbimos aos prazeres da exibição tal qual um pavão abrindo seu leque de plumas deslumbrantes. Quem não se adequar a tudo isso, pode ser expulso do grande parque sem maiores explicações.



O derradeiro começo

É um daqueles dias que transbordam. Emoções  pairam sobre os pensamentos esperando uma brecha para se infiltrarem na alma. Ficam seduzindo a razão para provar que só sua permanência tem real sentido.
É um daqueles dias que extrapolam. Luzes ligam e desligam sensações no meio do nada. De onde vinha o concreto, jogou-se a incrível insensatez. Buscas feitas ao redor de um universo particular. Corridas frenéticas atrás do que já se foi. O lugar vazio de um eterno sentimento.
É uma volta ao começo. O começo de qualquer coisa que há muito se quebrou, mas não se desfez. De onde todos perdem as lembranças, as fotos, as dores, os sins e os nãos. O começo que encontra o fim e assim forma o ciclo.

.

RECONCILIAÇÃO

Enquanto sinto saudades do atual acaso, surgem imagens que não pertenciam a este momento. Uma reconciliação tardia entre dois que nunca se entenderam como um. Mas a história foi escrita indiferente da vontade de ambos. O tempo passou lentamente e as imagens ficaram congeladas. Não tenho mais do que vinte anos, não tenho tanta experiência, não tenho medos nem acertos, só o desejo de continuar na sua pele.
O quanto posso me perder nesse enredo? O quanto posso querer recordar o que ficou marcado? O quanto posso perdoar meus passos e desejos? Apagaria a trilha sonora dessa história? Deixaria de suportar os dias que se sucedem em um plano paralelo onde nos encontramos e fomos felizes? Eu deixo a história findar e deixo a vida correr solta... Não prendo a dor no lugar da saudade. O que foi, foi. O que é ainda se constrói.

A distância tem o mesmo efeito da passagem do tempo?

Permanecemos calados nesta viagem como se fosse o suficiente para evitar que o primeiro beijo fosse revelado, que a primeira palavra fosse dita, que o primeiro desejo se cumprisse.
Permanecemos de mãos dadas como amigos. Como se fosse o bastante para superar mais uma pausa neste enredo.

FAÇA A COISA ERRADA

Por favor, não seja sério, desista desta implacável camada de austeridade que camufla sua vaidade.
Pise em poças d’àgua e molhe quem estiver ao seu lado.
Não se importe com a lama, ela seca e é lavável.
Ria, mas ria da graça alheia, da beleza de uma cena qualquer.
Embriague-se com o entusiasmo de um novo encontro e acorde com ressaca de amor.
Torne-se livre por cinco minutos e acorrente-se de vez à felicidade.
Diga muitos nãos
Diga muitos sins
Espalhe por aí bilhetes escandalosos, que a sua alegria seja estampada nos tablóides mais populares.
Descreva em detalhes intimidades, que todos conheçam a intimidade da sua ligação com Deus.
Aceite de vez que é um anjo, com asas meio tortas e auréola fosca, mas que ainda pode voar.
Por favor, seja errado, seja torto, incompreensível, mas seja amável como só os que descobriram sua imperfeição sabem ser.