quinta-feira, 9 de junho de 2011

A VIDA NÃO É UM PARQUE TEMÁTICO

Espanta-me a quantidade de temas que enfeitam a vida alheia. Outro dia, uma amiga anunciou sua gravidez ao mundo através dos meios virtuais. Logo depois, surgiram fotos ilustrando o início da gestação, o primeiro exame, as roupinhas fofas, tudo documentado e encaixado em uma moldura igual – um mundo de sonhos com ursinhos, borboletas e bebês risonhos. Caprichos de futura mamãe? Ou a tendência mundial de exposição radical?
E os casamentos atuais? Nada de uma capela pequena e poucos convidados. A flor de laranjeira deu lugar a quase um abacaxi. O exagero define-se em todos os detalhes, e pipocam fotógrafos de todos os lados. Para os convidados a imagem sagrada dos noivos é ofuscada pelos profissionais apertando-se em busca dos melhores ângulos. Tornou-se um espetáculo. O padre é mero figurante e as imagens sagradas apenas peças de cenário. É preciso documentar, registrar cada olhar, gesto e palavras dos noivos. Afinal, estamos no maravilhoso mundo dos apaixonados, o ingresso é o amor.
Até os divórcios tornaram-se tema. No Orkut, vemos as fotos das pessoas recém libertas do julgo do casamento atearem fogo nas suas memórias matrimoniais e exporem suas novas atividades. De novo, vivem em um mundo aparentemente perfeito. Vida nova, parque novo.
Festas de crianças sempre tiveram um tema. Mas era coisa simples, um enfeite no bolo e, no máximo, um painel confeccionado por uma tia mais habilidosa, além de uma mesa mais decorada. No auge da empolgação materna, uma fantasia para a criança aniversariante, obra da costureira da esquina. Hoje não, os buffets logo apresentam uma pilha de álbuns com exemplos de temas de aniversário. Os personagens vão dos mais singelos como as princesas encantadas aos assombrosos desenhos mais violentos.
E vendem.... E os pais compram tudo combinando com o tema, e os convidados entram em um mundo preparado para eles, mas sempre há alguém que reclame de algo. Afinal, nenhum parque temático resiste à crítica alheia.
A vida deveria ser mais simples do que isso. Deveríamos apenas nos preocupar em viver da melhor forma possível. Poderíamos enfeitar nosso cotidiano com flores, abraços, beijos e gentilezas. O casamento feliz não precisaria virar notícia nos meios da informática. O nascimento de um lindo bebê não se transformaria em capa de revista.
Não, a vida não é um parque temático. Apenas estamos perdidos nas possibilidades brilhantes que a mídia nos apresenta. Sucumbimos aos prazeres da exibição tal qual um pavão abrindo seu leque de plumas deslumbrantes. Quem não se adequar a tudo isso, pode ser expulso do grande parque sem maiores explicações.



Um comentário:

Anônimo disse...

Nem desconsidero quem deseja "tematizar" a vida. Mas o pior é qdo vc n segue a maré.
Certa vez fiz uma festinha de aniversário pro meu filho e perguntaram "qual o tema?". Aff, eu super desatualizada (morando anos na Europa) perguntei: "tema?" .
Acho que tudo perdeu o sentido...