sábado, 29 de setembro de 2012

QUERIA


Queria. Ah, queria muito te ver hoje. Passar ao teu lado fingindo distração. Disparar o olhar tantas vezes ensaiado, de lado, de canto, de imediato. Encontrar teus olhos por um breve instante. Te encabular  por segundos e receber teu cumprimento de cabeça. Melhor ainda perceber que teus lábios também se movem. Em minha direção.
Hoje não. Hoje não é dia de tua aparição. Dobrando a esquina, surgindo do nada. O estranho,  o desconhecido, já tão familiar a mim. Fantasio, escolho cores, roupas, adornos para te agradar. Quero parecer a primavera e brilhar como um sol. Mas me contenho, escolho raios mais sutis, disfarço minha agitação. Faço-me discreta o quanto posso. Mas posso pouco. Olha, como minha esperança brilha. Sim, quero que me note. Que me veja de longe. Que me sinta presente no teu espaço e tempo.
Tenho dúvidas, muitas dúvidas. Perguntas me impulsionam ao teu encontro. Quero saber tudo, todos os teus detalhes e decorá-los de vez.  Descobrir o que converge e o que nos afasta. Dar o primeiro toque, esquentar as mãos para não revelar a frieza do medo. Estipular prazos para que se diga a primeira palavra. Aceitar o teu silêncio como prova de respeito.
Queria te dar presentes. Os mais inesquecíveis, os mais improváveis, os que não se compram por nada. Queria te dar meu olhar mais doce, mais instigante, mais delator. Invadir tua mente, caminhar pelos teus pensamentos e atear fogo nas tuas intenções. Daria tudo por um pouco mais do teu reflexo na minha vida.
Queria que já fosse mais. Que te revelasse inteiro. Que não houvesse talvez ou nunca. Deslizaria nos teus braços e assumiria daí o enredo. Contaria tudo. Te diria coisas indecentes de minha autoria.
Queria, mas não posso. Queria pra ontem. Mas ontem não te vi. Esperarei por um dia ou dois. Tocarei os dias como pausas inoportunas, detalhes a serem superados, só para alcançar a paz do teu sorriso.
Queria não ter mais esse sonho. Não esperar demais de um acontecimento que não virará mar. Suspeito que pareço apaixonada, louca, desnorteada por uma história ainda não escrita. Riem de mim , mas eu sou toda assim cheia de possibilidades. As mais loucas, improváveis e lindas expectativas de te querer ainda mais. Sim, queria que fosse pra sempre o teu querer.


sexta-feira, 28 de setembro de 2012

À SEXTA O QUE É DE SEXTA

Não sei como te dizer isso, mas lá vai. Temos de conversar. É, não dá mais para adiar. Fim de semana chegando, a agenda repleta daqueles eventos que não pude cancelar e a geladeira vazia pra completar. Dá pra encarar? Não, não dá. Então, melhor acertarmos logo isso  antes que comece a chover. Porque vou sair. Está escutando os acordes? Então, são os primeiros compassos da trilha sonora do resto da minha vida. Sejamos breves.
Não estou contando contigo. É isso, simples assim. Na minha conta, não há mais adição de teu sal. Nem açúcar. Mas também nunca foste doce nesta história. O que importa? Desde que retire tuas lembranças do meu enredo e pare de assinalar vitórias onde só há sombras. Bastou pra mim. Já estou atrasada. Perdi tantas caronas do destino, tantos galopes do acaso. Não tenho tempo para rever tuas opções. Elas simplesmente não existem mais.
Claro que entendo que foi tudo muito de repente. Nem começamos e já acabamos. Gosto de narrativas curtas, densas e que acabam antes do tédio se instalar entre as linhas. Não merecia isso? Talvez, eu tenha mesmo exagerado no desfecho das suas expectativas. O que fazer? A heroína sempre deve sobreviver e brilhar no epílogo. Antes teu fim do que o meu.
Não, não sinto muito. Eu sinto pouco. Pouquíssimo no momento. Culpa tua. Sorte nossa. Ah, deixemos de bobagem. Um abraço e fim. Já te roubei também. Minhas nuvens não vão te seguir. Ficamos por aqui. Quer dizer, eu não. Estou indo acompanhar beijos.


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PARTIR


Esfregou as mãos até sentir ardor. Palmas avermelhadas, pensamentos atordoados. Levantou-se e esperou que o ritmo do seu coração se acelerasse de vez. Talvez desmaiasse. Talvez tudo se calasse.

Taquicardia instalada, leve tontura tomando conta dos seus sentidos, resolveu enfrentá-lo. Partiria. Porque tinha de ser assim. Já era assim.

Deu alguns passos em direção à porta, decidida a deixá-lo de vez. Sentiu o calor se espalhando pela cabeça, descendo pela nuca, alcançando as costas e se instalando de maneira indecente no seu baixo ventre. Era toda agora desejo de ficar. Agarrou-se ao batente da porta com esperanças de náufraga. Forte o bastante para lidar com as várias intenções que se digladiavam dentro de si, olhou para trás.

Sim, olhou para ele mais uma vez. Sombras projetavam-se e enegreciam seus olhos. Podia seguir esse homem para sempre. No entanto, seguiria sem ele agora.  Não tinha medo do futuro, muito menos do passado. O momento já era demais para se duelar.

Sentiu desejo por lâminas, adagas afiadas, punhais fatais. Estendeu as mãos para que o instinto se fosse e a razão a dominasse. Era mesmo tempo de partir. Juntou suas forças, ajeitou a flor nos cabelos e os soltou. Desejou se tornar invisível aos olhos dele. Murmurou algo. Talvez uma promessa. Talvez uma praga. Talvez um nunca mais.  

Nada mais importava porque o tempo já havia decidido. Era curto, era mudo e não sabia esperar. Nenhum minuto a mais. Nada de glória ou remorso. Era a hora.

E ela, então, se foi. Linda, descabelada, imponente em sua decisão maior: deixá-lo.

A ENERGIA

Perdi o sono. Os sonhos não vieram. O silêncio arrastou as palavras pelos corredores da imaginação. Correntes pesadas de matéria invisível  deslizando sobre o chão da minha mente. Pensamentos rasteiros, serpentes escorregadias. Camuflados sentimentos perdidos pela noite.
Sim, eu podia senti-lo. Podia tocá-lo face a face, palavra por palavra, saborear sua surpresa e jogá-la ao fogo. Sugar seu momento, atravessar seu desejo, despertar sua ira. Podia quase tudo desde que me entregasse, que me deixasse devorar pela tempestade. Mas ela e eu somos irmãs. Competitivas, lutamos pela maior intensidade. Amamos, destruímos sonhos, caímos em tentação e atiramos mais vento e água naqueles que só querem evitar o perigo. A areia nos cega, pesa em nossos sentidos e arranha nosso raciocínio.
Eu sabia que perderia o sono. Que talvez perdesse noites. Mas as estrelas permaneceriam ali, aguardando minha hora de sonhar. Tive certeza disso no momento em que pisei a linha final. Na beira do abismo, estremeci. Cavalos surgiram do nada. Os mesmos do apocalipse. Só podiam ser os mesmos.  A mesma energia do caos, da eterna danação. Era já o fim. Ou o começo do nada.
 


APÓS O ASSALTO - by M.F.N.S. (Participação especial)


Fechar a porta, apagar as luzes
não esquecer de recolher o lixo
este sim pesado demais pra não se prestar atenção no que tem dentro - toda luz
e todos os sonhos ali jogados

Displicentemente, como que jogados sem terem sido vistos ao cair gritando à espera de quem sabe?... serem recolhidos de lá
mas sabem que não serão
a luz já bem fraca na lembrança
ainda teimosa, fica, ali, alimentando os pobres sonhos que choram saudosos
nessa sala, de onde foram embora a vida e a emoção
recolher os cacos do vidro, do que foi quebrado na hora da raiva, só traz mais silêncio
a dona do lugar, a esperança, conversando com os sonhos ali jogados, fica o tempo todo alimentando aquelas ventanias, aqueles temporais que hoje não aparecem mais
lembram de quando a cerca branca rodeava a casa
o balanço vibrava nos empurrões firmes, enquanto a criança ria feliz, almejando só aquele momento
onde dançar e rir alto era o que tinha
silenciar?

Só ao som de uma música, num abraço terno
de olhos fechados, suspirando
nem sequer imaginava um futuro tão solitário
e a mesma esperança que hoje agoniza ali, tentando mantê-los todos junto dela
percebe que está mesmo na hora de fazer um balanço
fechar as portas
contabilizar as perdas
pois os ganhos foram todos levados de assalto
por uma gangue no crime perfeito
deixando somente aquele rastro de loucura
tudo revirado
tudo sem chão
sem saber por onde recomeçar, ela decide cabisbaixa
sair, olhando tudo o que havia construído, olhando pela ultima vez aquele que foi seu tão desejado lugar
feito com tanto carinho e paixão
agora fechando as portas, com tudo revirado lá dentro
e diz sem olhar pra trás: "penso nisso amanhã!"

 

terça-feira, 25 de setembro de 2012

SEJA FELIZ - by my friend MFNS


Seja feliz, te desejo...

para que eu possa te desejar ainda mais

seja bravo

para manter-se nos caminhos de teus objetivos

seja corajoso

para saber qual caminho escolher

seja paciente

para galgar cada degrau e poder desfrutar as conquistas

seja garboso

para sorrir largo a cada pessoa que encontrar

seja honesto

e faça-me orgulhosa da pessoa que és

seja prudente

ao tratar com as outras pessoas

seja otimista

para que vejas um mundo mais colorido

seja humano

para jamais endurecer tuas atitudes

seja carinhoso

para receber abraços sinceros e beijos amáveis

seja justo

para que jamais tenha que sofrer com tuas escolhas

seja interessado

para manter as pessoas de bom coração ao teu lado

seja amoroso

para aquela que for a tua escolhida,

e se permita junto a ela felicidades, que ela te faça dançar pelas ruas, rir alto, compartilhar histórias, ser quem és...amar

para que assim eu possa...

desejar de verdade que seja feliz, e saber que o és...para que eu possa seguir meu caminho, sabendo que estive, nem que seja por um momento,fazendo parte deste teu caminho de encontro à felicidade.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

DEVORAR

Desejo de condenada. Agora e quase pra ontem. Estímulo fumegante entrando pelas narinas mal preparadas. O frio lapidando o paladar corrompido pelos meses de jejum. Ah, aceito todos os teus carboidratos. Pago todo o preço desse delírio momentâneo. Conto em voz baixa as calorias inesperadas. Porque devoro. Eu te devoro com a loucura dos meus dias perdidos.
Corto em fatias que, mesmo assim, se grudam no calor do momento. Desisto de separar o que se faz inteiro. Arranco os pedaços daquilo que já devia ser meu, satisfeito entre os dentes, digerido em poucas palavras.
Amasso entre os dedos a pasta dos teus sentimentos e provo teu sal. Assim, quase em silêncio. Sem esperar me dar licença. Deixando invadir meus sentidos, tontear minha razão ainda à espreita, cautelosa com a gula desenfreada.
Sinto o calor que se mistura ao ambiente. Tenho vontade de abrir janelas, de expulsar o interesse que despertas em mim. Mas amoleço, quase derreto com o vapor que surge a cada respirar. Aproximo-me do perigo, do fogo, das chamas que alcançam o teto. Invisíveis faíscas percorrem o chão, secando o resto de água, de lágrimas derramadas pelos cantos.
Queimo as mãos sem por a mão no fogo por ti. Minha alma se antecipou no primeiro impulso. Então, sopro teus pedaços para que meus lábios não sofram demais. Beijos intercalam-se entre as mordidas. Suaves expectativas se dissolvem entre a língua e o céu. E todos os sabores mesclados, triturados e absorvidos por todas as células.
Embriagada, deslizo pelas horas seguintes sem certeza alguma. Perco os sentidos lentamente, todos os cinco, um a um. Mas nada é em vão, pois tudo recomeça a partir do agora. A brasa que alimenta a  fogueira já adormecida, os cheiros que penetram pelas frestas e as promessas de sabores recriados em nós.


sábado, 15 de setembro de 2012

GUARDANDO SEGREDO

Então, João sabia de tudo. Bem, deveria saber, pois possuía aquele olhar de quem detém um poder qualquer. Podia ser mais uma impressão do que a certeza de uma revelação. E ela tentara camuflar toda  a verdade em horas dúbias e palavras recolocadas nas pausas apropriadas. Quem dera pudesse ler a mente daquele homem que a olhava com tanta intenção. Quando ele pediu mais um café, ela tentou relaxar. Desviou o olhar para o movimento da rua . Tudo parecia tão vivo e pulsante. Não se importava com o perigo dos carros, das pessoas se atropelando e o ruído irritante de falas sem fadas.
Poderia contar tudo para ele. Sim, diria tudo de uma vez só. Palavra por palavra, sem tomar fôlego entre elas. Confessaria o que mais oculto encontrasse em sua mente. Talvez só pelo prazer de ver o espanto se espalhar naqueles olhos descrentes.
Enquanto as mensagens deslizassem entre os olhares, estaria tudo seguro. Ostra de sentimentos difusos. Ah, se todos soubessem que o seu desejo ia mais longe. Atravessava a rua, se postava diante de um estranho sem orientação alguma. Aquele era o seu mistério mais sagrado, seu sonho embrulhado em folhas de seda e laços de cetim. Cuidava dele com requintes de artista. Queria tanto que tudo se transformasse em um beijo, ou em ondas que a levassem para aqueles braços. Sentia que o momento se expandia quando ele apenas ameaçava sorrir.
Tomou um gole de café. Quase frio, quase doce. João ainda a olhava, com atenção de investigador. Se sua mente fosse a cena do crime, ele teria desvendado tudo ali mesmo. Sorte dela, que ele apenas a desejava. Não mais do que isso. E sendo assim, podia dizer sem susto, que seu segredo estava a salvo. Por enquanto.


quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A CILADA

Era tudo aquilo e mais um pouco. Passos dados em direção ao nada que se somavam a tantos outros perdidos pelo caminho. No entanto, agora havia firmeza na marcha camicase. Determinação dos que seguem cegos pelo objetivo  há muito definido.
Ela sorria porque, de fato, estava feliz. Iluminada por uma força que lhe envolvia os membros como corrente elétrica. Não era algo simples, pois nada nela era assim. Era a tormenta de todas as expectativas atiradas contra a parede da realidade.
Era o momento do abandono que surgia com a possibilidade de amar mais do que sonhar. Não que isso fosse fácil ou bom na sua totalidade, mas quase inevitável. Não era um amor dirigido ao homem que ali estava, mas a si mesma e isso tornava tudo mais dúbio, profundo e obscuro. Era a pessoa mais difícil de confrontar porque conhecia seus relevos emocionais e deles nem sempre podia escapar. Por isso estava lá, diante de todas as provas de uma interminável aventura sugada pela terra do esquecimento. Sorria, porque a felicidade de se deixar perder o sonho de uma vez é silenciosa e plena.
E os passos tornaram-se mais lentos a medida em que se aproximava do momento. Podia enxergar a armadilha feita pelos seus próprios planos. Estavam todos lá misturados a desejos brotados sem rega ou ternura. Tudo embolado, embotado em pequenas poças de dúvida. Ela ousou titubear e refletir por segundos. E se não fosse a hora? E se tudo tivesse enfim uma finalidade?
Recuou mais lentamente ainda do que o tempo. Suspirou um desejo qualquer e esperou que tudo se desfizesse. Mas a cilada ali estava no cruzamento de seus pensamentos e sentimentos. Quase perfeita na sua arquitetura fatal.
Ela, então, deixou escapar seus últimos anseios e deu as costas para o final que ainda não lhe pertencia. Foi assim, catando pelo caminho de volta os fragmentos do sonho. Não podia renunciar a ele . Ainda não.


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O IMPROVÁVEL

Ela despertou de repente. Não de um sonho. Não de um pesadelo.  Mas da desesperança que se instalava entre seus planos. Era tudo tão nítido agora. Tudo tão perfeitamente ajustado e simetricamente recolocado. Estava ali na sua frente como uma paisagem recém pintada, com  as cores fortes respingando em seus olhos.
Não havia razão alguma ali. Só a necessidade de mergulhar, mesmo que isso lhe roubasse todo o ar. Disposta a tudo para não perder aquele momento. Por um sorriso, por aquela risada que invadia sua mente. Mas era só isso, nada mais.
Não é que não fosse bom. Era e muito. Era intenso na medida certa, terno nos momentos exatos. Mas não era pleno, não era dela, não era ela. Uma história boa é apenas uma história boa e não preenche as lacunas do querer. Diverte, acalma, sossega as labaredas. Ela sentia isso, a calma, o quase tédio do não haver mais nada ali.
O que seria simples e adequado tornou-se um mapa de interrogações. Nada ali revelava as lendas que tanto desejava viver. Fogo voraz e logo extinto. Olhar de quem nada percebe além do óbvio. Desejo no lugar do improvável sentimento. Ah, mas ela queria muito mais. Exigia da vida uma reparação qualquer. Uma prova da infinita corrente de elos impossíveis.
Não era justo. Não era sequer sensato. No entanto, ela só sabia ser assim. Intensa constelação de dúvidas e desejos. Sem nada alcançar no estático mundo das possibilidades. Não queria  o possível. Queria pintar sua vida com as tintas erradas, do jeito mais impreciso, mas revelar arte.
Não queria estar certa. Nem ter sempre a razão. Apenas ser assim como era, debaixo de todas as camadas, uma mulher de sorte duvidosa. Uma personagem do infindável improvável.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

TODO O QUERER

Foi meio por acaso, ela agora percebia. Não tencionara dar um passo além, mas o perigo parecia hipnotizá-la. O eco surgia em ondas que a lançavam para o abismo. E ela nem mais sabia se queria fugir dele. Era tudo tão rápido e intenso, como um festival de luzes que a desafiava para mais um duelo.
Podia sentir a música dominar seus sentidos. Tinha certeza de que ele a tornaria surda para qualquer conselho sensato. Não era mesmo hora de ouvir o bom senso. O nada lhe caia muito melhor agora e a melodia coroava o instante.
Podiam  ficar ali pra sempre na antecipação do que seria o inevitável encontro. Trocaram segredos, abriram portas, atravessaram pontes. Houve dúvidas e silêncio. Alguns passos dados para trás  à  espera do melhor momento. Este nunca chegaria para abençoá-los com um final feliz.
Ela sabia que poderia desistir. Que deveria virar as costas e deixar que tudo desmoronasse. Seria rápido,  mas nada indolor.
Não era o certo. Não era o melhor. Mas era tudo o que queria. De uma imensa glória que lhe atingia ao meio. Suportaria os raios e trovões se ali pudesse ficar. Rezaria sempre por mais uma oportunidade junto àquele que lhe tingia os olhos de alegria.
Não sabia se era amor. Provavelmente não. Talvez paixão pelos acontecimentos que se acumulavam à porta da inconstância. Era tudo aquilo e mais um pouco. Escorria pelos cantos e beijos que se multiplicavam vorazes.
Não era errado. Não era pecado. Tinha cores muito próprias e sons muito sutis.Tinha de ser verdade. Devia ser selado como voto, como pacto secreto e promessa não dita. Eles estavam lá. E tudo mais deixava de existir. Era dor, era calor, era ainda mais simples. Era apenas o que tinham. Todo o querer do mundo.


domingo, 2 de setembro de 2012

O ABRAÇO




Ela caminhou apressada. Estaria atrasada? Preocupada com o horário, com o suor escorrendo pelas suas costas, com a possibilidade do desencontro. Os pés começaram a doer com a insistência dos passos quase em disparada. Tentou respirar como quem procura o mar junto ao horizonte. Tudo em vão, o coração só compreendia o ritmo de uma polca alucinada.
Então, chegou à esquina. Quase sem coragem de virar e perceber que o vazio ali a esperava. Respirou fundo e então o viu. Ainda distante, mais alto do que esperava, distraído como quem acompanha a procissão errada.
Ela aproximou-se devagar, desacelerando cada passo com a intenção de não se fazer notar. Percebeu logo que não tinha sobre si o manto da invisibilidade. Ele a enxergou, já não tão distante assim, nem tão pouco distraído com santos ou anjos. Apenas a olhava como quem já conhece todo o segredo. E de repente, movia-se em sua direção, passos largos e destemidos. Foi neste instante que ela paralisou, corpo, cérebro, alma, tudo. Rogou por uma pausa qualquer já com um desmaio começando a percorrer seus sentidos.
O corpo próximo fez com que ela se desprendesse da queda e se atirasse ao momento. Tudo tão claro que cegava seu raciocínio.Tudo tão iluminado que não havia sombra para camuflar seus medos. Fez-se de repente o entardecer de forma inesperada.  Um beijo suave pousado nas mãos, desses típicos de novela de época. Calafrio de quem já havia decorado todo o texto e ali o esquecia linha por linha. Um puxão impaciente e braços tornando-se pares perfeitos. Grudados, entrelaçados, fundidos em milhares de sonhos passados. Letra e música, palavras deslizando pelas mãos e alcançando o desejado. Era somente isso, nada mais. Um abraço.
 
 


sábado, 1 de setembro de 2012

A DESCONSTRUÇÃO DA PAIXÃO


Então, você faz assim: rasga logo esse painel bucólico que enfeita o fundo do meu coração. Pica em mil pedacinhos para facilitar a reciclagem. Viu? Fácil assim. Agora, pega esses personagens fictícios e desmembra. Um por um. A cabeça deixa inteira, mas só a minha. O resto, corta. Como? Olha aí o machado da realidade. Pega e arrasa! Vai, anda logo, que a fila é grande e a paciência é pouca.
Juntou as peças do cenário? Pega aquela ilusão ali e guarda no armário. É, nunca se sabe quando se precisará de uma. Esses sonhos, você embrulha com cuidado. Lindos, não? Confeccionados com o melhor da alma. Claro que vão servir para o próximo espetáculo. Não se fazem mais sonhos como esses!
Varre essas boas intenções para debaixo dos últimos acontecimentos. Não precisa esconder, elas vão se desfazendo pouco a pouco. Não há pressa, tudo se coloca no devido lugar. Enrola agora esse tapete vermelho. Ninguém mais vai pisar nele. Não tão cedo. Sorte que não deixaram muitas marcas.
É isso aí, acabou. Ah, eu sei que nem houve estreia, mas a divulgação já estava rolando, né? Então, devolvemos os ingressos, fechamos as portas e aguardamos uma nova produção.
Baixa a cortina e escreve um bilhete de despedida. Curto e justo: THE END.