domingo, 2 de setembro de 2012

O ABRAÇO




Ela caminhou apressada. Estaria atrasada? Preocupada com o horário, com o suor escorrendo pelas suas costas, com a possibilidade do desencontro. Os pés começaram a doer com a insistência dos passos quase em disparada. Tentou respirar como quem procura o mar junto ao horizonte. Tudo em vão, o coração só compreendia o ritmo de uma polca alucinada.
Então, chegou à esquina. Quase sem coragem de virar e perceber que o vazio ali a esperava. Respirou fundo e então o viu. Ainda distante, mais alto do que esperava, distraído como quem acompanha a procissão errada.
Ela aproximou-se devagar, desacelerando cada passo com a intenção de não se fazer notar. Percebeu logo que não tinha sobre si o manto da invisibilidade. Ele a enxergou, já não tão distante assim, nem tão pouco distraído com santos ou anjos. Apenas a olhava como quem já conhece todo o segredo. E de repente, movia-se em sua direção, passos largos e destemidos. Foi neste instante que ela paralisou, corpo, cérebro, alma, tudo. Rogou por uma pausa qualquer já com um desmaio começando a percorrer seus sentidos.
O corpo próximo fez com que ela se desprendesse da queda e se atirasse ao momento. Tudo tão claro que cegava seu raciocínio.Tudo tão iluminado que não havia sombra para camuflar seus medos. Fez-se de repente o entardecer de forma inesperada.  Um beijo suave pousado nas mãos, desses típicos de novela de época. Calafrio de quem já havia decorado todo o texto e ali o esquecia linha por linha. Um puxão impaciente e braços tornando-se pares perfeitos. Grudados, entrelaçados, fundidos em milhares de sonhos passados. Letra e música, palavras deslizando pelas mãos e alcançando o desejado. Era somente isso, nada mais. Um abraço.
 
 


Nenhum comentário: