quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O IMPROVÁVEL

Ela despertou de repente. Não de um sonho. Não de um pesadelo.  Mas da desesperança que se instalava entre seus planos. Era tudo tão nítido agora. Tudo tão perfeitamente ajustado e simetricamente recolocado. Estava ali na sua frente como uma paisagem recém pintada, com  as cores fortes respingando em seus olhos.
Não havia razão alguma ali. Só a necessidade de mergulhar, mesmo que isso lhe roubasse todo o ar. Disposta a tudo para não perder aquele momento. Por um sorriso, por aquela risada que invadia sua mente. Mas era só isso, nada mais.
Não é que não fosse bom. Era e muito. Era intenso na medida certa, terno nos momentos exatos. Mas não era pleno, não era dela, não era ela. Uma história boa é apenas uma história boa e não preenche as lacunas do querer. Diverte, acalma, sossega as labaredas. Ela sentia isso, a calma, o quase tédio do não haver mais nada ali.
O que seria simples e adequado tornou-se um mapa de interrogações. Nada ali revelava as lendas que tanto desejava viver. Fogo voraz e logo extinto. Olhar de quem nada percebe além do óbvio. Desejo no lugar do improvável sentimento. Ah, mas ela queria muito mais. Exigia da vida uma reparação qualquer. Uma prova da infinita corrente de elos impossíveis.
Não era justo. Não era sequer sensato. No entanto, ela só sabia ser assim. Intensa constelação de dúvidas e desejos. Sem nada alcançar no estático mundo das possibilidades. Não queria  o possível. Queria pintar sua vida com as tintas erradas, do jeito mais impreciso, mas revelar arte.
Não queria estar certa. Nem ter sempre a razão. Apenas ser assim como era, debaixo de todas as camadas, uma mulher de sorte duvidosa. Uma personagem do infindável improvável.


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