sábado, 15 de setembro de 2012

GUARDANDO SEGREDO

Então, João sabia de tudo. Bem, deveria saber, pois possuía aquele olhar de quem detém um poder qualquer. Podia ser mais uma impressão do que a certeza de uma revelação. E ela tentara camuflar toda  a verdade em horas dúbias e palavras recolocadas nas pausas apropriadas. Quem dera pudesse ler a mente daquele homem que a olhava com tanta intenção. Quando ele pediu mais um café, ela tentou relaxar. Desviou o olhar para o movimento da rua . Tudo parecia tão vivo e pulsante. Não se importava com o perigo dos carros, das pessoas se atropelando e o ruído irritante de falas sem fadas.
Poderia contar tudo para ele. Sim, diria tudo de uma vez só. Palavra por palavra, sem tomar fôlego entre elas. Confessaria o que mais oculto encontrasse em sua mente. Talvez só pelo prazer de ver o espanto se espalhar naqueles olhos descrentes.
Enquanto as mensagens deslizassem entre os olhares, estaria tudo seguro. Ostra de sentimentos difusos. Ah, se todos soubessem que o seu desejo ia mais longe. Atravessava a rua, se postava diante de um estranho sem orientação alguma. Aquele era o seu mistério mais sagrado, seu sonho embrulhado em folhas de seda e laços de cetim. Cuidava dele com requintes de artista. Queria tanto que tudo se transformasse em um beijo, ou em ondas que a levassem para aqueles braços. Sentia que o momento se expandia quando ele apenas ameaçava sorrir.
Tomou um gole de café. Quase frio, quase doce. João ainda a olhava, com atenção de investigador. Se sua mente fosse a cena do crime, ele teria desvendado tudo ali mesmo. Sorte dela, que ele apenas a desejava. Não mais do que isso. E sendo assim, podia dizer sem susto, que seu segredo estava a salvo. Por enquanto.


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