quinta-feira, 27 de setembro de 2012

PARTIR


Esfregou as mãos até sentir ardor. Palmas avermelhadas, pensamentos atordoados. Levantou-se e esperou que o ritmo do seu coração se acelerasse de vez. Talvez desmaiasse. Talvez tudo se calasse.

Taquicardia instalada, leve tontura tomando conta dos seus sentidos, resolveu enfrentá-lo. Partiria. Porque tinha de ser assim. Já era assim.

Deu alguns passos em direção à porta, decidida a deixá-lo de vez. Sentiu o calor se espalhando pela cabeça, descendo pela nuca, alcançando as costas e se instalando de maneira indecente no seu baixo ventre. Era toda agora desejo de ficar. Agarrou-se ao batente da porta com esperanças de náufraga. Forte o bastante para lidar com as várias intenções que se digladiavam dentro de si, olhou para trás.

Sim, olhou para ele mais uma vez. Sombras projetavam-se e enegreciam seus olhos. Podia seguir esse homem para sempre. No entanto, seguiria sem ele agora.  Não tinha medo do futuro, muito menos do passado. O momento já era demais para se duelar.

Sentiu desejo por lâminas, adagas afiadas, punhais fatais. Estendeu as mãos para que o instinto se fosse e a razão a dominasse. Era mesmo tempo de partir. Juntou suas forças, ajeitou a flor nos cabelos e os soltou. Desejou se tornar invisível aos olhos dele. Murmurou algo. Talvez uma promessa. Talvez uma praga. Talvez um nunca mais.  

Nada mais importava porque o tempo já havia decidido. Era curto, era mudo e não sabia esperar. Nenhum minuto a mais. Nada de glória ou remorso. Era a hora.

E ela, então, se foi. Linda, descabelada, imponente em sua decisão maior: deixá-lo.

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