Esfregou as mãos
até sentir ardor. Palmas avermelhadas, pensamentos atordoados. Levantou-se e
esperou que o ritmo do seu coração se acelerasse de vez. Talvez desmaiasse.
Talvez tudo se calasse.
Taquicardia
instalada, leve tontura tomando conta dos seus sentidos, resolveu enfrentá-lo. Partiria.
Porque tinha de ser assim. Já era assim.
Deu alguns passos
em direção à porta, decidida a deixá-lo de vez. Sentiu o calor se espalhando
pela cabeça, descendo pela nuca, alcançando as costas e se instalando de
maneira indecente no seu baixo ventre. Era toda agora desejo de ficar.
Agarrou-se ao batente da porta com esperanças de náufraga. Forte o bastante
para lidar com as várias intenções que se digladiavam dentro de si, olhou para
trás.
Sim, olhou para ele
mais uma vez. Sombras projetavam-se e enegreciam seus olhos. Podia seguir esse
homem para sempre. No entanto, seguiria sem ele agora. Não tinha medo do futuro, muito menos do
passado. O momento já era demais para se duelar.
Sentiu desejo por
lâminas, adagas afiadas, punhais fatais. Estendeu as mãos para que o instinto
se fosse e a razão a dominasse. Era mesmo tempo de partir. Juntou suas forças,
ajeitou a flor nos cabelos e os soltou. Desejou se tornar invisível aos olhos
dele. Murmurou algo. Talvez uma promessa. Talvez uma praga. Talvez um nunca
mais.
Nada mais importava
porque o tempo já havia decidido. Era curto, era mudo e não sabia esperar. Nenhum
minuto a mais. Nada de glória ou remorso. Era a hora.
E ela, então, se foi.
Linda, descabelada, imponente em sua decisão maior: deixá-lo.
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