quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Respirando o Natal


Eu sei que a época é tumultuada e as pessoas parecem formigas correndo pra lá e pra cá, sem saber bem o porquê de tanta pressa. Um certo massacre comercial das propagandas natalinas na TV também acontece. Há um certo exagero na decoração geral e uma pressão inexplicável para se ser feliz. Mesmo vendo tudo isso e tendo sofrido grandes perdas, ainda tenho um teimoso duende de Papai Noel habitando em mim. Talvez, sejam as lembranças da infância, as imagens românticas dos filmes e seriados que adoro. Talvez, seja apenas um tolo otimismo que se recusa a ser soterrado pelo cinismo dos tempos modernos.
Então, cá estou dividindo com você mais um pouco dessa ansiedade contagiante que nos empurra para o fim. Fim do ano, é claro. Mas é o fim e devemos guardar um certo luto, um respeito ao ano que, castigado, se vai e já deixa um quê de saudade maldita. Ah, envelhecemos um pouco nesse trocar de meses, de tilintar de taças de cristal, pipocar de fogos de artifícios. Por mais que me distancie da infância, meu coração permanece inalteradamente atado em laços de comprometimento com as fantasias de Papai Noel e suas renas. Ele vem, sim. Estou esperando, fitando minha lareira imaginária e acreditando que todos os mais belos sonhos irão se realizar sempre. Viva esse duende enlouquecido que vive em nós! Feliz Natal !

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Qual o tamanho da sua família?


Cresci acreditando que minha família era um conjunto de sete pessoas. Não éramos seis. Éramos sete: papai, mamãe e cinco filhinhos. Quase uma família urso, ou família Crusoé, dependendo do clima do mês e humor dos participantes. Se seguisse por esta lógica infantil, hoje seríamos cinco. Encolhemos! Não. Na minha visão pós-balzaquiana, expandimos. Meus irmãos casaram, um atrás do outro e assim agregaram ao nosso núcleo cunhados, sogros, tios presentes, primos distantes, bebês cativantes. Os sobrinhos nasceram, cresceram e encontraram seus amigos-irmãos. Todos foram sendo atraídos como metal ao ímã, ou nós a eles nos rendemos. O fato é que as festas e reuniões não são mais as mesmas dos anos 70. Não reunimos sete pessoas ao redor de um bolo de frutas com fios de ovos e cantamos um singelo “parabéns para você”. A lista de convidados se desenrola até o chão e confundimos irmãos com amigos, existindo mais afinidade do que rivalidade. A prima da irmã do tio do meu cunhado não tem um cromossomo em comum comigo mas a energia é totalmente familiar.
O mundo é minha família? Não chegaria a tanto, já que teria de deserdar boa parte dos membros dessa família universal.
O tamanho da sua família é aquele da sua capacidade de acolher novos amigos e amores na sua vida. Família é tudo de bom !





domingo, 13 de setembro de 2009

Siga-me que eu sou uma novela


Sim, me acompanhe. Posso não precisar de mais uma sombra, mas gosto de ser bem acompanhada. E minha vida, como a de todo mundo, daria uma boa novela. Se você for uma pessoa interessante, especial e legalmente simpática, vai estar do meu lado, me acompanhando. Se estiver me acompanhando e for chato e nada possua que valha a pena, não vou nem notar a sua presença, então pode continuar aí que eu nem ligo.

Eu acompanho novelas. Não todas que não dou conta, mas as que me inspiram para o próximo capítulo. Deveria? Não sei. Não é intelectualmente muito correto. Mas não sou do tipo intelectual, nem correta muitas vezes.

Acompanho também a vida dos outros. Tem gente que não admite, mas eu acompanho a linha vital dos meus amigos... às vezes, de perto, muitas vezes de muito longe, mas com interesse de leitora de almas. Fazer o que se são tão interessantes os meandros das mentes humanas? A vida alheia sempre me emociona e alimenta minhas reflexões para seguir minha própria vida. Sim, eu olho para o meu umbigo, mas não o tempo todo. Para outras ocasiões, outras vidas.

Então, não me incomodo que me acompanhem. Que sigam o rastro dos meus dias e noites, desde que não me invadam. Seguir é uma coisa, perseguir é outra. Sou muito maleável com a curiosidade, no entanto, não lido bem com palpites. Ninguém manda na minha vida. Nem mesmo eu às vezes.

Siga-me, acompanhe-me por essa estrada que pretendo que seja longa. Eu aceito sua companhia e podemos até dar as mãos e conversar sobre os outros viajantes do espaço.

Ei, estou te seguindo agora.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Você precisa de feriado pra quê?


Mais um feriado comprido. Tudo bem, para nós, santistas, a farra se estende até amanhã. Sim, porque amanhã é o dia da padroeira da cidade. Por Nossa Senhora do Monte Serrat, rezemos para não cair no tédio do descanso alheio.

Feriado é bom mesmo quando se pode viajar. Quando se gosta de viajar. Quando se quer viajar. Ou não, como diria Caetano. Também adoro ficar sem as algemas da rotina, mas até quando? Corre-se o risco de se acostumar ao ócio desenfreado, de se largar mão sem escrúpulos dos compromissos, de se gostar imensamente desse dolce far niete. É ótimo ou péssimo dependendo do ponto de vista adotado. Dormir mais um tantão assim, espreguiçar o limite do tempo, saltar refeições sem culpa. Ou não. Se você tem criança em casa, nada de feriado... pelo menos não para as mamães.

Nada contra os feriados. Dão mais fôlego, dão um certo alívio no meio dos dias corridos. O duro é se desapegar deles. Voltar ao dia a dia que nem sempre tem seus momentos de glamour. Síndrome de noite de domingo, véspera de não feriado. E já pensando: quando virá o próximo?

sábado, 22 de agosto de 2009

As flores do inverno


Eu adoro flores. Elas são perfeitas quando delicadas ou exóticas. Perfumam e enfeitam qualquer ambiente. Tornam qualquer cenário mais bonito e encantam qualquer paisagem. Flores deveriam ser acessórios obrigatórios, ítens indispensáveis, cultivo indiscriminado. As pessoas deveriam prestar mais atenção às pequenas florzinhas e sorrir para elas.

Minha filha sofre com uma mãe que vive chamando sua atenção para as flores no caminho. As árvores ficam tão fantásticas quando carregadas de flores. Ipês amarelos são escandalosamente interessantes. Parecem irreais. Claro que tem sempre alguém que reclama daquelas pétalas caídas na calçada... mas são pedaços de um milagre da natureza. Não percebem isso?

Minha mãe adorava flores. Meu pai vivia filmando ou fotografando flores e jardins. Há um certo complô genético para que eu seja viciada em flores. Quase toda pintura minha tem que ser finalizada com pelo menos uma florzinha. Mas nada de coisas que tornem a natureza cafona. As flores são assim, elegantes mesmo murchas.

E roubo imagens de flores do orkut alheio. Minhas amigas já sabem. Não posso passar por um jardim virtual sem arrancar uma florzinha. Só uma ! E não arranco pela raiz, deixo as outras florescem em paz.

Ah, meu reino por um jardim. Só tenho vasinhos enfileirados na janela da área. Estão lindos, insistentes na exposição de suas florzinhas miúdas. Não tenho espaço para mais, mas acho que vou providenciar algum cantinho mágico nos vãos esquecidos do meu lar.

O mundo fica mais belo quando florido. E não há inverno que resista a um belo ramo de flores. E pensar que há pessoas que não gostam de receber flores... Por quê? Acham um presente inútil, que não dura. Ah, como podem chamar a beleza e delicadeza de inúteis? Elas são o que são e não enganam ninguém.

Que venha a primavera e traga mais flores ao nosso cotidiano. E joaninhas, tão fofas, tão agradecidas pelas pétalas amigas. Adoro tudo isso.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

O MUNDO VIRTUAL




Tempos difíceis. Ou serão tempos virtualmente imperfeitos? Às vezes, me perco entre tantos e-mails de amigos quase desconhecidos que lotam minha caixa postal com mensagens repassadas de misteriosos autores.
Por outro lado, a possibilidade de rever velhos amigos perdidos em algum lugar da minha remota infância quase me faz buscar a beatificação de Nossa Senhora do Sagrado Cosmo Virtual. Sim, porque tem de haver alguma coisa do tipo no contexto atual.
Atravesso algumas noites insones rastreando páginas intrigantes que me levam a lugares interessantes e assim vou esgotando meu tempo real em promessas virtuais. O mundo ampliou-se com a tecnologia da informática, tornou-se veloz, mais repleto, enorme, gordo e preguiçoso.
Passamos a ter uma certa preguiça mental e até mesmo emocional para lidar com relacionamentos concretos. O computador oferece uma barreira de proteção que nos leva à ilusão de que somos ótimos e temos um milhão de amigos legais. De onde te conheço mesmo? Claro, do Orkut , da página de fulano que faz parte daquela comunidade... Ahhh... somos amigos? Ah, entendo: só virtualmente.
E se alguma dúvida me persegue, apelo para o meu amigo Google, senhor de todos os conhecimentos. E acho. Acho muito material. Acho pesquisas, fotos, imagens e muito lixo que não pode ser reciclado por neurônio algum.
Não tenho como negar. Vou ter que confessar. Entreguei-me sem pudores ao maravilhoso mundo novo virtual.

domingo, 12 de julho de 2009

Compulsão por acentos


Em plena adaptação às normas regras ortográficas, ainda me choco com uma avalanche de acentos agudos mal empregados. Há realmente uma licença poética que autoriza o uso de acento agudo nos monossílabos terminados em u? De onde vem essa síndrome que leva os incultos e os até letrados a empregar acentuação nessa pobre vogal? Mu, tu, zu, bu, e até mesmo um palavrão recebem o ´.

Discuti a questão com um amigo físico - talvez, disse-lhe eu, as pessoas estejam tão preocupadas com a incidência da dengue que queiram evitar que a concovidade da letra U encha-se de água parada. Então usam o acento para formar uma proteção contra a chuva... Então, ele me respondeu que, neste caso, seria melhor empregar o acento ^ , que protegeria melhor o recipiente... Sim, muitas viagens, muitas divagações e nenhuma explicação.

Se os nomes Juliana, Luciana, Murilo, Sula não possuem acento, por que seus apelidos recebem o sinal gráfico e viram Jú, Lú, Mú, Cú...? Ai, me empolguei na indignação ortográfica. Qual a explicação para tal fenômeno? Eu acho feio e desnecessário.

Não tenho neurose por acentos, pois o meu próprio nome deveria levar acento no primeiro a, mas eu não o escrevo assim porque não fui registrada assim... hum, será errado isso? Tudo bem, vou ser mais tolerante com os us acentuados. Eles não sabem o que fazem ou, talvez, saibam mas gostam assim. Fazer o quê?

terça-feira, 7 de julho de 2009

Novidades Pesadas


Sempre que pergunto por novidades, associo as mesmas a coisas boas como o nascimento de um nenês fofo, uma gestação acalentada, um casamentos planejado com ansiedade, o emprego maravilhoso, aquela viagenm espetacular... qualquer coisa, desde que seja algo bom, como a compra de um picolé.

Entretanto, nem sempre a resposta vem acompanhada de um sorriso e sim de um franzir de testa e de palavras. Não, nem tudo está bem. Alguém morreu. Alguém ficou muito doente. Alguém perdeu o emprego, o marido, o amante ou os três juntos. Não, viver não é sempre uma grande novidade, às vezes é uma pesada sequência de acontecimentos. E aí o choque da realidade me derruba ao chão sem piedade. O mundo não é mais perfeito como há dois minutos atrás - pessoas queridas morrem (não só Michael Jackson), pessoas próximas adoecem e nem sempre há curas maravilhosas e rápidas. Ou então, as pessoas simplesmente se perdem no seu próprio enredo.

Ser contaminada pela realidade é ceder ao pesado pano do infortúnio que só se rasga com risadas espontaneas.

Ah, não quero essas novidades, mas consigo digeri-las. Não gosto, mas sou eficiente nisso. Não acho justo, mas sigo em frente. E continuo perguntando por novidades. E continuo acreditando que sempre serão alegres, leves e deliciosas.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A arte da decepção


Decepciono-me à segunda vista. Não logo de cara, mas aos poucos. Um dia depois, uma semana depois, um mês se tanto. Mas me decepciono. Lindamente. Quase placidamente.
Primeiro olho a pessoa, o objeto da minha curiosidade, e a cerco de todas as indagações que me permitir a educação. E a adoro, com a ingenuidade de uma criança desembrulhando um novo brinquedo. Adoro seus detalhes revelados de uma personalidade até então desconhecida. Adoro todas suas piadas ou seu intrigante silêncio. Valorizo sua singularidade, exteriorizo minha vulgaridade. Sou plena e lenta na construção desta nova amizade. Mas, eu disse, eu me decepciono! A decepção surge quando a pessoa diz algo que não se encaixa no enredo do episódio que secretamente elaborei para aquele momento. Decepciono-me com uma ponta de leviandade, com a presença constante de uma humanidade errante.
Assim, faço descer do pedestal de cristal o ser que ainda ostenta a coroa da minha adoração. Desça, desça, desça bem depressa para que possamos finalmente nos conhecer.
E então, selecionando os que devem ficar e os que nem quero mais olhar, abraço aquele que posso chamar de amigo, mesmo com todas suas falhas e promessas de decepções futuras. Porque agora somos nós, dois imperfeitos, caminhando para uma possível relação.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Revisitando Pollyana



Estou pensando em reler Pollyana. Comprei o livro na Bienal de São Paulo com o intuito de guardá-lo para minha filha quando atingisse a pré-adolescência. No entanto, pensei que um surto de otimismo descontrolado me faria bem no momento.
Como minha amiga Polly (adquirimos muita intimidade com o passar dos anos da infância à maturidade), vejo pontos muito positivos na minha situação atual. Estou prestes a completar 45 anos e , portanto, escapei de morrer jovem. Escapei de ser jovem, não de morrer, claro. Mas ainda assim é algo a se agradecer. Meus pais já faleceram, então, fui abençoada com o fato de não lhes causar o desgosto da perda de uma filha. Sou uma órfã! Não, segundo minha filha de 7 anos, só crianças são órfãs. Então, sofro de uma deficiência parental?
Aos 45 anos, com certeza, já me livrei da possibilidade de ser uma mãe precoce. Embora ainda possa cometer a loucura de ser uma mãe anciã. Ou a natureza pode cometer esta loucura por mim... Ai, prefiro nem pensar nesta hipótese. Mas segundo a doce Polly, por causa da minha idade, sou uma mãe mais madura e preparada para encarar uma adolescente nos próximos anos. O problema é – ainda existem próximos anos?
Aos vinte anos, uma pontada leve na cabeça, para mim era um episódio de intuição. Agora, me preocupo com um possível acidente vascular cerebral. Sei praticamente tudo sobre AVC, mas prefiro que ele saiba muito pouco sobre mim. Ou melhor, que me ignore completamente.
Não sou obcecada com a minha saúde, mas fico frustrada quando um médico não me diz sorrindo que meu organismo é de criança e tudo caminha bem para uma longevidade próspera e feliz. Gosto de me imaginar velhinha e saltitante, com os olhos brilhantes cheios de uma alegria infantil. Ficar velha será melhor do morrer? Tornar-se idosa é mais elegante do que ficar velha?
Avançar nos anos tem suas compensações, mas não consigo me deter em nenhuma agora, assim de improviso. Quanto mais o tempo passa, mais riscos se avolumam em torno da nossa vida. Os jovens gostam de riscos? Pois bem, mas os riscos gostam mesmo é dos velhos. Com o passar dos anos, o risco de se perder entes queridos cresce com uma velocidade assustadora. Sim, porque as pessoas adoecem, se acidentam, morrem. Ponto final. Acho que o maior risco de vida é perder o mundo que conhecemos. Ceder ao ostracismo forçado. Virar ostra almejando estágio para fóssil.
Vou reler Pollyanna. E talvez até Pollyana moça. Uma overdose de otimismo não deve ser fatal, ainda mais se for uma leitura em doses homeopáticas.
O que me consola é que não estou só nesta missão – acabo de saber que minha irmã também comprou o livro

Minhas novas amigas de infância e minhas velhas amigas da terceira idade

Há uma certa ocasião na vida em que trocamos de amizades ou talvez apenas nos adaptamos ao novo cenário que nos é apresentado. Quando temos filhos pequenos , na fase pré-escolar, trocamos experiência com outras mães que se aventuram nos parques escassos da cidade. Na fase da escola, temos de conviver com outros pais e mães durante as reuniões. Tenho visto mais pais na sala de aula do que seria esperado. Tempos modernos. Ou mães ocupadas demais?
A grande maioria das minhas colegas de hidroginástica estão na terceira idade ou entrando na sala da espera da melhor idade. São senhoras com vida agitada, animadas com a agenda repleta de eventos sociais alegres e constantes.
Todo mês tem uma comemoração. Seja aniversário de alguém, seja uma data festiva qualquer. Ontem, foi a celebração dos 80 anos de uma colega. Sim, oitenta anos e um corpinho de atleta e a energia de uma adolescente borboletante. Inveja me causa essa extensão quase infinita de disposição.


O mito da Vovó

Descobri a origem dos meus problemas. Eu não tive avó. Bem, avós biológicas todos nós temos. Uma de cada lado da família, bem instaladas em fofas nuvens na árvore genealógica. Eu me refiro àquela figura maravilhosamente mágica da vovó, aquela senhora gentil que mima os netos com pequenos agrados culinários, um colo macio e seguro, olhares de extrema compreensão e uma rede segura de sabedoria. Ou será tudo lenda?
Sim, porque minha amiga de infância teve uma avó que lembrava mais os filmes melodramáticos do que cheiro de bolo. Doente até o fim, problema sem fim. Como necessitava de atenção constante, a filha sempre era acionada para uma missão quase impossível. Assim, minha amiga ficou sem mãe nos primeiros meses de vida para dar lugar à pobre anciã.... Epa, mas a senhora egípcia só devia ter uns 40 anos na época.