quinta-feira, 2 de julho de 2009

A arte da decepção


Decepciono-me à segunda vista. Não logo de cara, mas aos poucos. Um dia depois, uma semana depois, um mês se tanto. Mas me decepciono. Lindamente. Quase placidamente.
Primeiro olho a pessoa, o objeto da minha curiosidade, e a cerco de todas as indagações que me permitir a educação. E a adoro, com a ingenuidade de uma criança desembrulhando um novo brinquedo. Adoro seus detalhes revelados de uma personalidade até então desconhecida. Adoro todas suas piadas ou seu intrigante silêncio. Valorizo sua singularidade, exteriorizo minha vulgaridade. Sou plena e lenta na construção desta nova amizade. Mas, eu disse, eu me decepciono! A decepção surge quando a pessoa diz algo que não se encaixa no enredo do episódio que secretamente elaborei para aquele momento. Decepciono-me com uma ponta de leviandade, com a presença constante de uma humanidade errante.
Assim, faço descer do pedestal de cristal o ser que ainda ostenta a coroa da minha adoração. Desça, desça, desça bem depressa para que possamos finalmente nos conhecer.
E então, selecionando os que devem ficar e os que nem quero mais olhar, abraço aquele que posso chamar de amigo, mesmo com todas suas falhas e promessas de decepções futuras. Porque agora somos nós, dois imperfeitos, caminhando para uma possível relação.

3 comentários:

Ana Ribeiro disse...

Este blog está se tornando uma referência existencial! Vamos descer do pedestal, a dona raposa do Pequeno Príncipe que nos perdoe... não há tempo para cativar, aproximemo-nos que o tempo urge! Caminhemos lado a lado e então seremos responsáveis pela nossa humanização...

Adoro cada vez mais este blog!

Ana Ribeiro

Anônimo disse...

E a dor da decepção?
Acho que não há nada tão ingrato como esta dor...

Unknown disse...

E sempre me questiono se é assim que é bom, já que me faz sofrer, às vezes. Escolho, não por afinidades, mas meu grupo de pessoas admiráveis realmente é seleto.