quinta-feira, 25 de junho de 2009

Revisitando Pollyana



Estou pensando em reler Pollyana. Comprei o livro na Bienal de São Paulo com o intuito de guardá-lo para minha filha quando atingisse a pré-adolescência. No entanto, pensei que um surto de otimismo descontrolado me faria bem no momento.
Como minha amiga Polly (adquirimos muita intimidade com o passar dos anos da infância à maturidade), vejo pontos muito positivos na minha situação atual. Estou prestes a completar 45 anos e , portanto, escapei de morrer jovem. Escapei de ser jovem, não de morrer, claro. Mas ainda assim é algo a se agradecer. Meus pais já faleceram, então, fui abençoada com o fato de não lhes causar o desgosto da perda de uma filha. Sou uma órfã! Não, segundo minha filha de 7 anos, só crianças são órfãs. Então, sofro de uma deficiência parental?
Aos 45 anos, com certeza, já me livrei da possibilidade de ser uma mãe precoce. Embora ainda possa cometer a loucura de ser uma mãe anciã. Ou a natureza pode cometer esta loucura por mim... Ai, prefiro nem pensar nesta hipótese. Mas segundo a doce Polly, por causa da minha idade, sou uma mãe mais madura e preparada para encarar uma adolescente nos próximos anos. O problema é – ainda existem próximos anos?
Aos vinte anos, uma pontada leve na cabeça, para mim era um episódio de intuição. Agora, me preocupo com um possível acidente vascular cerebral. Sei praticamente tudo sobre AVC, mas prefiro que ele saiba muito pouco sobre mim. Ou melhor, que me ignore completamente.
Não sou obcecada com a minha saúde, mas fico frustrada quando um médico não me diz sorrindo que meu organismo é de criança e tudo caminha bem para uma longevidade próspera e feliz. Gosto de me imaginar velhinha e saltitante, com os olhos brilhantes cheios de uma alegria infantil. Ficar velha será melhor do morrer? Tornar-se idosa é mais elegante do que ficar velha?
Avançar nos anos tem suas compensações, mas não consigo me deter em nenhuma agora, assim de improviso. Quanto mais o tempo passa, mais riscos se avolumam em torno da nossa vida. Os jovens gostam de riscos? Pois bem, mas os riscos gostam mesmo é dos velhos. Com o passar dos anos, o risco de se perder entes queridos cresce com uma velocidade assustadora. Sim, porque as pessoas adoecem, se acidentam, morrem. Ponto final. Acho que o maior risco de vida é perder o mundo que conhecemos. Ceder ao ostracismo forçado. Virar ostra almejando estágio para fóssil.
Vou reler Pollyanna. E talvez até Pollyana moça. Uma overdose de otimismo não deve ser fatal, ainda mais se for uma leitura em doses homeopáticas.
O que me consola é que não estou só nesta missão – acabo de saber que minha irmã também comprou o livro

Um comentário:

Ana Ribeiro disse...

Minha cara amiga de tempos distantes, otimismo é bom. E viver... uma dádiva, sem critério de escolha, aceita-se a existência e deixa rolar...
Sei que é um pensamento simplista, mas na idade que estou, tenho direitos adquiridos e vou fazer uso deles. Não que eu seja pessimista, mas às vezes acho que não me interessam mais as alternativas, faço o melhor e então os resultados me parecem ideais, visto que não há critério de escolha.
Vou passando os meus dias com a saúde que eu puder cuidar, com os sonhos que eu puder sonhar, com as pessoas que estiverem ao meu redor, no meu caminho, dividindo o meu espaço inclusive o espaço virtual... e vou fazendo história, que é a única coisa que fica.
Beijos no coração e não se afaste mais das palavras porque, de certa maneira, elas nos libertam.

Ana R.