quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

POSSIBILIDADES

Por todos os lados, tentava encontrar a resposta. Assim como se pudesse resgatar a verdade com um só olhar . Adorava aquele silêncio que se instalava no vão dos seus pensamentos. Ninguém para censurar sua ira infantil. Ninguém para perder suas palavras. 
Já havia repetido tudo aquilo tantas vezes. Perdia o rumo da sua vida em várias ocasiões. E se retirava do mundo para poder velar pela ausência de sentido.
Sentia frio e um vazio crescente. Chovia muito, demais até para o seu estado de espírito. Sempre chovia quando pressentia o fim. Seguia passos distantes. Prometia a si mesma amanhãs melhores para instalar seus sonhos.
Tinha pressa e teimava em buscar abrigo em um nome no escuro. Temia mais um passo em falso. Pulsava em algum lugar do pensamento daquele que não parecia perceber a insuportável espera. Dizia adeus mil vezes e nada lhe vinha por dentro. Tão distantes como no princípio, tão indefinidos em qualquer tempo.
Batia portas expulsando o silêncio sagrado. Não conseguia raciocinar direito e por isso precisava escrever. Outra carta. Mais uma que jamais seria enviada. Não queria dizer antes da hora. Preferia esperar pelo momento certo. Mas sabia, e como sabia, que esperar pela perfeição seria pura tolice. Por isso, escolhia o agora, rasgado, estilhaçado.



domingo, 24 de fevereiro de 2013

INTERPRETAÇÕES

Falo de chuvas distantes, de passagens apagadas, de promessas quase esquecidas. Toco em pontos sensíveis, arrepio o adormecido. Escuto tuas reclamações com uma paciência inexistente. Nem sempre redobro assim meus cuidados. Sou negligente, um pouco distraída com essa coisa de ser coerente.
Camuflo segurança para não parecer feliz demais. Invento ciúmes para enganar teus demônios que se escondem pelo caminho. Nada mais em mim é indiferente. Minhas cores multiplicam-se seguindo luzes desconhecidas. Minha imaginação se sente de fato acompanhada por todos os enredos do teu destino.
Narro contos fantásticos. Dobro as páginas do livro para marcar teu interesse. Com pressa, leio as frases esperando novos significados em teus olhos. Recordo fábulas para argumentar melhor com o tempo. Tudo tão exposto aguardando  novas respostas.
Uma palavra ou duas mal encaixadas e pronto. O caos instala-se no vazio das certezas. Disparados sinais de alerta, rostos pintados para a guerra, facas alcançadas com rapidez. Então, tomo fôlego e recomeço a leitura. Assim, permito-me  perceber as tuas pausas, as linhas ocultas no teu querer. Redijo novos sentimentos esperando que estes te alcancem sem falhas. Que não faltem em mim semântica, poesia e alguma coerência.
Livres possibilidades validam o meu desejo. De tanto tentar, minhas narrativas encontram eco na tua lógica. São versos que abrigam epifanias prontas para eclodir. De tanto querer, já sou esfinge desprovida de segredos. Decifrada, entregue sem ameaças de maiores enganos. Sem previsões de confusas tempestades de areia. Sou a mesma sob todos os prismas e entendimentos. Serei ainda eu, liberta em teu discurso.


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

A SENHA

Combinações numéricas. Combinações alfabéticas. Descombinei tudo. Sem sentido decifrar esse segredo. No entanto, lá vai a mente desvendar o que alarma o físico. Erro. De novo. Reprogramo as letras, embaralho os números e revejo datas que deveriam ser inesquecíveis.
Aceito que o secreto se faça presente. Dele depende minha sensatez. Se eu já soubesse tudo e tivesse todas as respostas, o que me restaria fazer aqui? Olhar o tempo passar e oferecer minha sabedoria baseada em fatos?
Olho a tela. O vazio me surpreende. Gostaria de ver o correto ganhar espaço. Minha escolha ser aceita. Receber um sorriso de volta como gentileza do dia. Ah, mas não forneço minhas alternativas. Desejo ter o poder de adentrar na conta, na vida, na corte real que acompanha meus sonhos. Simples assim.
Notas musicais intercalam-se com cálculos muito exatos. O conhecimento traz a ignorância do mais simples. Os vazios instalam-se no vão das dúvidas. Conto os algarismos, refazendo as somas, multiplicando as expectativas do acerto.
Negocio com o mistério. Talvez no amanhã a resposta apareça. Ou não. Fica suspensa a chave do que não quer se revelar.
 


domingo, 10 de fevereiro de 2013

GOTAS DE ESQUECIMENTO

O momento apresenta-se despido de qualquer novidade. Opaco, neutro, inodoro. Perdido e jogado sobre o mármore da indiferença. Como um bêbado perdido em noite de folia. Sem som, sem noção, quase um tropeção.
Percebo a costura vã dos acontecimentos. Nada segura os pontos do que ainda não se firmou. A fragilidade dos remendos revelam falhas aqui e ali. O bordado desfeito que o tempo negou-se a alinhavar.
Em todos os passos, um hesitar quase nato. Sei que possuo mais talento para rasgar do que para alinhavar. Corto com a mesma facilidade com que me provocam. Sem medo de confundir tecido com pele, impressão com realidade, dor com essa coisa chamada amor.
Chuva de linhas, perdidas memórias. Esquecer perdoaria o tempo desperdiçado. As palavras batendo como gotas contra a vidraça. Perder, deixar aquarelar o enredo, soltar as notas que servem de lembretes. Negociar com a consciência, administrar os sonhos que escalam os muros da lucidez. É impróprio. É quase mórbido. Mas jogo embriagada com o que já esqueci