quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A CILADA

Era tudo aquilo e mais um pouco. Passos dados em direção ao nada que se somavam a tantos outros perdidos pelo caminho. No entanto, agora havia firmeza na marcha camicase. Determinação dos que seguem cegos pelo objetivo  há muito definido.
Ela sorria porque, de fato, estava feliz. Iluminada por uma força que lhe envolvia os membros como corrente elétrica. Não era algo simples, pois nada nela era assim. Era a tormenta de todas as expectativas atiradas contra a parede da realidade.
Era o momento do abandono que surgia com a possibilidade de amar mais do que sonhar. Não que isso fosse fácil ou bom na sua totalidade, mas quase inevitável. Não era um amor dirigido ao homem que ali estava, mas a si mesma e isso tornava tudo mais dúbio, profundo e obscuro. Era a pessoa mais difícil de confrontar porque conhecia seus relevos emocionais e deles nem sempre podia escapar. Por isso estava lá, diante de todas as provas de uma interminável aventura sugada pela terra do esquecimento. Sorria, porque a felicidade de se deixar perder o sonho de uma vez é silenciosa e plena.
E os passos tornaram-se mais lentos a medida em que se aproximava do momento. Podia enxergar a armadilha feita pelos seus próprios planos. Estavam todos lá misturados a desejos brotados sem rega ou ternura. Tudo embolado, embotado em pequenas poças de dúvida. Ela ousou titubear e refletir por segundos. E se não fosse a hora? E se tudo tivesse enfim uma finalidade?
Recuou mais lentamente ainda do que o tempo. Suspirou um desejo qualquer e esperou que tudo se desfizesse. Mas a cilada ali estava no cruzamento de seus pensamentos e sentimentos. Quase perfeita na sua arquitetura fatal.
Ela, então, deixou escapar seus últimos anseios e deu as costas para o final que ainda não lhe pertencia. Foi assim, catando pelo caminho de volta os fragmentos do sonho. Não podia renunciar a ele . Ainda não.


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