segunda-feira, 5 de novembro de 2012

LUZES

Acostumada que estava a se enrodilhar na própria sombra, ela assustou-se com a quantidade de claridade que invadia seu mundo. Em feixes luminosos com poeira suspensa criando desenhos de anjos. Entre suspiros e gemidos, despiu-se de qualquer argumento. Não era hora de vestir véus ou armaduras. Era momento de plenitude, de alcançar o topo da montanha. De se entregar ao derradeiro laço e apertar o nó.
Não havia prazo ou limites. O tempo deixara de passar e somente a respiração marcava o compasso dos sentidos. Redemoinhos de sensações abrindo espaços inimagináveis. Partículas minúsculas arremessadas em alta velocidade, batendo nos cantos, nos sonhos e transformando tudo em beijos.
Deslizando pela pele, ameaças rompiam o silêncio que se entregava à escuridão. Hora de luz, de espanto geral. Que as estrelas despencassem do impossível e abrissem lábios em flor.
Fogo, ar, água e terra. Lama transportada em baldes de prazer. Labaredas que inflamavam desejos e rebatiam na água das expectativas. Pulmões cheios de todas as promessas feitas. Beijos, abraços, o que fosse preciso para que o mundo não acabasse no vazio.
Do caos, fez-se luz. De toda a escuridão, surgiu o dia mais ardente. Que mil faces revelassem o brilho e que a verdade afundasse nos lençóis. Que a felicidade desse instante lavasse as pichações dos muros da vergonha.
Ela sorriu. Mais de uma vez. Todas as vezes que tocada pela luz. De repente, já não era mais uma mulher. Era toda chama acalmando-se em brasa.


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