terça-feira, 30 de outubro de 2012

RENOVAÇÃO

De repente, o vazio. O silêncio invadindo o quarto. Sem música, sem atenção, sem tensão. O inacreditável momento de parar, afinal. Parecia tão distante, tão pouco provável. Uma pausa no fluxo desenfreado que havia se formado desde então.
Ela fechou os olhos para perceber melhor o nada que se instalava sutilmente nas dobras de seus sonhos. Lágrimas umedeceram seus olhos, mas não caíram. Tudo estava presente naquele instante tão silencioso.
Não era o silêncio dos mortos. Não era o vazio dos que foram deixados de lado. Era o limpo, o espaço ampliado dos móveis arrastados, das teias retiradas uma a uma. Podia até dançar porque a liberdade estava posta e disposta ali. As paredes vazias e, ao mesmo tempo, tão repletas de possibilidades.
A renovação emergia de cantos desconhecidos. Lavava o chão de tantas promessas esquecidas. Aliviava a nostalgia grudada nos veios da madeira do tempo. O pó fugia pelas frestas das janelas ainda fechadas.
E ela abriu: os olhos e as janelas. Permaneceu calada e quase paralisada. Receava atrapalhar o trabalho do tempo. Encostou-se na parede, corpo e alma deslizantes. Sentiu frio e segurança. Medo e ternura.
Todo o espaço para redesenhar sua própria história. Escolher suas novas cores, decorar seus enredos e costurar os tapetes das suas verdades. Metamorfose a completar.  A vida para inaugurar mais uma vez.
 
 

Um comentário:

Ana Silva disse...

Estou precisando muito de um vazio..