sexta-feira, 12 de outubro de 2012

DANÇANDO NO SILÊNCIO


Os pés nus tocando o chão frio. Desenhando pequenos círculos para provar a intimidade telúrica. Passos em volta de mim mesma, como se perdida estivesse, como se nada mais houvesse. Sem música, um silêncio de apogeu reinante. Braços subindo em busca de espaço e luz. Mãos que se abrem e fecham. Brincam de pegar o que ainda não vi.
Sorrisos se abrem. Portas fechadas escancaram possibilidades. Luzes começam a piscar e voltas se tornam laços, sem nós, sem você. O ritmo quase me corrói por dentro. Tenho tantas promessas escorregando pelos meus olhos! E ainda assim, danço. Quase canto. Por um momento, estremeço e cumpro todas as ameaças que fiz.
As pausas alongam-se em meus músculos. Obedientes, eles perfazem o caminho e remontam a coreografia idealizada. Já fui mais sua. Já fui até mais minha. Os compassos se despedaçam, corrompidos por esse silêncio que não passa. Por todas as músicas que teimam em recomeçar em minha mente, encontro seus acordes ainda mornos, aconchegantes devaneios.
Sou assim, a mesma dançarina. Despida de muitos sentimentos que impedem minha harmonia. Descolo de mim as marcas que se infiltram em minha pele como hematomas tardios. É cedo demais para conduzir a dança à última nota. Preciso de mais força para seguir a melodia sem esbarrar nas claves mais perigosas.
A dança prossegue, lenta, tocante, mágica instantânea. Meus pés arriscam pelo incerto, calçando novas cores com a alegria de quem perdoa o próprio destino.


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