sexta-feira, 5 de outubro de 2012

O OLHAR


Momento entre as palavras e o riso. O seu olhar espalhando brasas sobre a neve macia. Suave contraste de cores e temperaturas.
Experimento sabores na ponta dos segundos que despencam distraídos sobre o meu colo. O tempo querendo parar preguiçoso no vão do seu palpitar. Aconchegado e manso, deslizante sentimento como um manto. Nada sagrado, nada profano, apenas seus olhos cobrindo meu corpo.
Tenho alguns segredos fugindo em sua direção. Suspiro ainda mais próxima de você. Porque de nada me adianta a surpresa de querer mais. Mãos que se encostam, temerosas do toque seguinte. Invasoras, delatoras do desejo, cúmplices no perigo emergente.
Suspeitos olham para o mesmo ponto como se atraídos por uma força qualquer. Enroscam palavras entre leves gemidos. Alguma tensão engasga na garganta. Cortantes nãos que se estendem pelo inadequado da hora e do local. Promessas antecipadas que completam vazios que nem se sabia existir ali.
Como corais, abrigam tesouros mergulhados no que ainda será. Olhos que por vezes se desencontram na ansiedade do que virá. Então, vejo você com todas as suas histórias reveladas, refletidas em íris e luz. Mágico caledoscópio.
Deixo de prestar atenção no universo. Concentro-me em não perder, em não deixar ir o instante que se desdobra lentamente. Tudo novo e ao mesmo tempo antigo como se os séculos compartilhassem dos mesmos desejos. Já houve uma outra vez. Já se fez caos e apogeu. Agora é imensidão do mar sem calma.
Sim, ainda posso ir embora. Fechar meus olhos, atravessar a indiferença como lança. Desistir do ficar. Deixar de ser sua. Mas não quero. Já estou mergulhada,  lançada às mesmas águas do seu olhar. Sem naufragar. 

Nenhum comentário: