sábado, 20 de outubro de 2012

A EXPERIÊNCIA


O laboratório era frio como todo ambiente estéril. Banca-das de aço e vidros de diversos formatos compunham o cenário central. Substâncias misteriosas aguardando misturas inéditas. Aventais sendo vestidos, óculos acertados em rostos quase inexpressivos. Cientificamente elaborado, o painel das sensações trazia sim, hora ou outra, um desconforto aos olhares racionais.
Era ali que pretendia dissecar aquele sentimento que insistia em dominar toda a matéria. Colocaria tudo em uma bandeja esterilizada e com um bisturi cortaria, impiedosa, cada tecido. Tencionava eliminar do próprio peito as raízes daquilo que já não se fazia importante. Ou talvez fosse mais,  algo quase essencial evoluindo feito uma infecção. Teria de raspar, triturar, esfregar células sobre a lâmina e então observar seu esplendor. O microscópio faria o resto. Denunciaria as partículas do cosmos que, para ela, pareciam pertencer ao macro altar .
Tinha as mãos trêmulas como inexperiente analista de emoções tão intensas. Temia deixar escapar algum traço recessivo, só percebendo os dominantes sinais da sua paixão.
Luvas poupavam suas mãos do contato excessivo. Podia perceber as diversas substâncias sendo misturadas, levemente sacudidas em suas veias. Haveria risco de combustão? Certamente que sim, mas não era dela somente o risco. Esperou os minutos estipulados como padrão de reação. Nada. Ou tudo?

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