quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O MEU HOTEL CALIFÓRNIA


Existe um lugar na minha mente no qual eu sempre sou bem-vinda. Tem uma placa tosca, mas simpática, com letras bem grandes WELCOME.
Logo na entrada, muitas flores e o som maravilhoso de mil violões tocando Hotel Califórnia dos Eagles. Posso até ver as águias cortando o céu. Este está sempre azul - ora claro, ora escuro com estrelas.
É lá que mergulho com todas as emoções de que sou capaz. E, sim, eu sou muito capaz nessas horas. É quente, denso, escorregadio, profundo e meio assustador. Tem cores fortes como Frida Kahlo, voz desesperada como Callas, um pouso incerto em cada céu e inferno.
Mas cada vez que fecho os olhos e respiro mais fundo, me deixo ir. Entro por aquela porta e esqueço-me de qualquer norma de segurança.
Os deuses estão presentes, os demônios também. Não há duelo possível. Não há pausas supostas. Há apenas minha alma experimentando todos os quartos do esquecimento e lembrança. Há tudo de mim. Há o mundo em mim.
A música continua seguindo meus passos. O ritmo do mergulhar diminui um pouco anunciando que é hora de voltar à tona. A razão resgata qualquer apelo da areia movediça. Volto meio tonta, meio acabada, meio embriagada do medo de mim mesma, mas renovada e encantada com a minha coragem.
É o meu hotel particular com hóspedes selecionados e gerência decapitada. Os violões só silenciam no último acorde necessário ao adeus.
Voltei, mas o hotel continua lá a minha espera.

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