quinta-feira, 21 de março de 2013

INVISÍVEL SINTONIA

Lá vem ela inaugurando o outono. Não fosse pelas calçadas esburacadas, desfilaria sob o cair de folhas. Chapéus de sol a saúdam trocando as cores de suas copas. O verde emudece e o vento vem logo dobrar o cobre que a tudo descobre. O vermelho rompe a ordem das coisas porque tem sede de novas flores.
Por aqui, ela passa e nem olha para os lados, pois o chão a desafia. Precisa proteger as rodas e a vida do descaso. No carrinho, seu tesouro, o doce da sua missão. O filho que carregou, agora sustenta toda sua esperança. Como colheita, não há melhor sorriso.
Pode parecer estranha para olhos desacostumados com essa graça florida. Alguns duvidam que ela realmente exista, posto que queima sem ao menos ser vista. Menina bailarina que aos poucos divisa o que é real daquilo que é só pista.
Depois de algum tentar, você reconhece a diva. Aquela que se esconde por trás dos óculos escuros. O interesse cresce para melhor desfrutar desta presença oblíqua. O céu enche-se de azul, branco, verde, amarelo e vermelho. Já não há espaço sem alegria dela. Balões flutuam pelo seu sorriso enquanto as estrelas ainda não chegam.
Há de ser assim: sempre bela e amiga. Entre as conquistas, algumas lágrimas. Dos mais fortes, torna-se aliada. Das fraquezas, vira as páginas.
Mulher que junta o mar e a ira. Num só olhar,  é onda arrebentando contra a rocha. Abraça o inerte para transformar pedra em constelação de amores.


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