quarta-feira, 19 de junho de 2013

SOB PROTEÇÃO

Enquanto as nuvens pesadas ameaçavam despencar em chumbo e cobranças, o abrigo surgiu. Poucos passos além do prometido, alcançado sem sorrisos, sem aconchego fácil. Seguro momento, retrocesso em processo. Pedras sem argumentos, piso sem pegadas. 
Ali permaneceu durante toda a tempestade. Protegida, atenta, frustrada menina. Com olhos arregalados de quem assiste a um espetáculo tentando não perder nenhum detalhe. 
Despiu as roupas molhadas, assumiu outras que não eram suas, porém secas e quentes. O abraço veio depois, silencioso encontro com o real.
Das nuvens, mais nenhum sinal. Lavado céu, pensamentos esfregados à exaustão, razão sem pó. No horizonte, apenas uma leve circunstância de desassossego. Poeira dourada estendida ao longo do dia. Era hora de recolher armas e desafios.
Refeita do susto, da ira, do querer mal feito, ela decidiu enfrentar o resultado de tudo. Não precisava de muito. Carecia de pouca verdade, pois o agora já lhe pesava de fato. De nada, buscaria explicação. Na pausa cometida, a justificativa já fora dada. Abordada sensação de abandono, suportável companhia revelada.
Insistiria no erro? Se enganara mais de uma vez. No auge da esperança, perecera no frio descaso. Sacudiu os cabelos como se uma juba ostentasse, só para desembaralhar pensamentos confusos. 
Já estava satisfeita dessa coisa de querer demais. Saberia ser menos? Suportaria passos menores e cuidadosos? Duvidava. No entanto, era tanto o despejar de ilusões, que desejou só tentar. Olhando assim, lá pro fundo do mar, beirando o céu, podia ver novas nuvens em formação, feito estrelas embaçadas por lágrimas. 

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