sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A SOMBRA DA JUVENTUDE



Para onde foi a minha juventude? Pergunta a velha senhora olhando-se no espelho. Mas o reflexo é mentiroso e não lhe revela de fato a verdade. Somente devolve os traços físicos de um ponto de vista mecânico, sem essência e sem poesia.
Então, a doce velhinha gira em sua cadeira de rodas com a agilidade que a idade lhe permite. De repente, tem uma ideia; na verdade, uma lembrança alegre da infância. Brincar de sombras! Brincar com elas ao invés de acumulá-las no seu coração. Desliga a luz, deixando somente o abajur aceso. E põe-se a brincar com as mãos, com a luz, com a sombra, com a alma. E lá está ela: uma linda bailarina, aquilo que sempre foi: leve e sábia conhecedora de todos os passos importantes na vida. Na sombra esquecida pelos holofotes do cotidiano, está a sua real imagem: mais do que mil palavras, sua alma revelada em sonho, poesia e promessa.
Aquela menina bailarina permanece viva, feliz, sorrindo a cada compasso da vida. Se o corpo envelhece e se curva ao Senhor Tempo, a alma continua em um constante desabrochar, revelando a cada instante uma nova pétala colorida, cheia de viço e frescor.

2 comentários:

Anônimo disse...

Podemos ser o que queremos, sempre!
Lembrei-me daquela música do Chico Buarque:
"que gente grande sai pra ser criança"
lindo!

Lúcia Carvalho disse...

Aceitar q não temos mais a mesma agilidade de quando éramos mais novos é difícil. Bonito texto.