domingo, 8 de abril de 2012

PELO CAMINHO

Ela passou a mão sobre a mesa levando consigo o pó e o pouco de tudo que restava dela.
Sentia falta daquela pessoa que vivera tanto tempo dentro dela como uma gestação sempre prorrogada, como um susto antecipado, um galope incerto no futuro. Continha as lágrimas para que não ardessem no arrependimento de um adeus. Sentiria saudades do "nós", das noites eternas que guardavam em segredo. Em estranhas pausas, iria  revelar mais camadas, mais fases que se desenrolam como um filme de arte. Dos longos, dos quase intermináveis. Era assim que acontecia. Uma dança desacompanhada, um compasso a mais perdido. O silêncio imperando solene em transbordantes ausências.
Mais do que falta de ar, faltava-lhe o não querer mais.  Mas queria. Queria tanto bocejar entediada com aquele sorriso e sufocar o riso quando a fazia corar.
Não seria mais feliz daquele jeito tão conhecido, porque mil possibilidades não são nunca a mesma coisa. Era tanta coisa e a vida engoliu.
Se alguém lhe perguntasse o porquê  do riso, ela diria que a razão era a mesma do choro. Era a vida agarrando-se nas paredes do esquecimento. Só assim conseguia abri mão da pressa. E  se acalmava em um colo desconhecido.
Não pegaria mais atalhos. Não correria mais do que os coiotes. Não se aproximaria do fogo pelo fascínio das suas labaredas. Não seria muito ela mesma por algum tempo. Porque o tempo dava voltas para pegar o ritmo certo. E, o tempo agora meio tonto  de tanto não ser, prometia não um mergulho, mas um voo.
Ela, já sem aquele por perto, abdicava do sonho. Entendia que agora a estrada era longa, mas sem possibilidade de paradas, retornos, desvios. Acelerar só produziria acidentes e destruiria as estruturas de pontes recentes. Não era hora de apressar nem mesmo as batidas do coração.  E assim, caminhando, ela  seguiu na esperança do seja como for.

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