domingo, 15 de julho de 2012

FÉRIAS


Ela queria sumir. Não de uma maneira definitiva ou quase morrer. Queria apenas apagar sua trilha no mundo para que pudesse recomeçar. Esquecer do seu personagem cotidiano e encontrar a sua ilha particular emocional. Levaria pouca coisa. Levaria um pouco de si para constar como bagagem. Porque não queria mesmo levar muito. Queria mesmo é encontrar. Muito. De tudo.
Sumiria em férias. Embarcaria no primeiro avião que a levasse dali, daquele solo sem acontecimentos. Permitiria uma pequena tripulação a bordo, mas a piloto seria ela, claro. Não tinha intenção alguma de ceder a direção a ninguém mais.
Aceitaria sugestões, mas não as levaria tão a sério. Férias são férias e não merecem tantos planos. Esqueceria alguns sobre a mesa, outros entre os lençóis e aqueles mais sórdidos no arquivo morto.
Ah, não tinha tempo para simulações. Ou era pra valer, ou não era nada. Tencionava não gastar todo o seu entusiasmo na mesma praia deserta. Precisava do movimento das emoções desfilando em sua direção.
Talvez não fosse mesmo sumir. Tiraria férias e mergulharia naquele rio tão tentador. Sentiria frio a princípio e depois se aqueceria com a própria coragem. Teria intenções estranhas, reprovaria decisões alheias e afogaria o tédio.
Do alto da cachoeira, gritaria um nome. Talvez dois. Tudo bem, três ou quatro, mas os últimos nunca seriam mesmo os primeiros. Pisaria nas pedras e escorregaria para cair nos braços certos. Que fossem fortes o suficiente para suportar o peso do seu desejo.
E quando as férias acabassem, ela sentiria falta do que tinha sido. Olharia as malas vazias de promessas. Tanto espaço e tempo para recomeçar. E quando precisasse, outras esperanças teria e quando delas se fartasse, outras férias viriam.

Um comentário:

Ana Silva disse...

Gosto dos dias de chuva! dias de ficar em casa, curtir a família, aproveitar o aconchego do lar como hj!