sexta-feira, 27 de julho de 2012

O PODER DA MÚSICA


Lys suspirou mais uma vez. Talvez pela décima quarta vez naquela manhã. Depois, mais um clique. E outro. E mais outro. Repetidas vezes, até a música se movimentar sozinha pelo quarto. Então,  ela pôde deixar as emoções encontrarem os compassos certos e, como pares, dançarem a sua volta.
A repetição era só uma formalidade, pois a melodia agora já fazia parte das suas células. Embriaguez musical. Hoje era romântica e fazia vibrar suas memórias mais delicadas. Outro dia, era o rock que a mantinha alegre e um tanto elétrica. Suportar tantas pausas na vida só parecia ser possível quando ela mergulhava na música.
Ainda achava que todos os momentos de sua vida possuíam uma trilha sonora especial. Escolhia com cuidado para não se debater em nenhum compasso dissonante. No entanto, não podia mais negar, era extremamente volúvel quando contaminada por uma harmonia distante. Não podia evitar. Era a magia que dominava seus pensamentos e os fazia transbordar em sentimentos cada vez mais potentes.
De vez em quando, desaguava em decepção, fúria ou simplesmente esquecimento. Ritmos mais contundentes já haviam sido ignorados com o tempo.
Mas aquele momento era especial, porque ela o estava compondo nota por nota, desafiando as claves da razão e vencendo seus próprios medos. Não sabia até que ponto aquela era obra sua ou do tal destino. Tinha receio de desfazer a incrível melodia se raciocinasse demais. Uma hora isso aconteceria. Mas não agora. Não, não agora, por favor. Naquele momento, ela precisava de todas as notas, de todos os acordes espalhados pelo seu corpo, de todas as desculpas possíveis para um conserto incerto e vibrante.
Clicou mais uma vez e a música recomeçou. Sorriu a reconhecer os primeiros acordes. Era ela. Era dela. Por um compasso ou dois. Até que a melodia cessasse. Ou não.




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