sexta-feira, 6 de julho de 2012

SERÁ?


Olhou para o relógio mais uma vez. Os ponteiros pareciam não se mover. Imaginou que o tempo parara e não se dera conta disso. Seria uma boa desculpa para como estava se sentindo naquele momento. No vazio, no vácuo, no vão dos acontecimentos. Impossível evitar  a frustração mesmo tentando lidar com o silêncio de maneira madura e ponderada.
Respirou fundo e pôs os fones no ouvido. Preferia lidar com a música do que com o silêncio. Parecia mais confortável, menos cortante. Começou a cantar acompanhando um compasso ou outro e, aos poucos, foi enchendo a mente de notas e acordes, substituindo uma possível revolta de sentimentos. A estratégia funcionava bem, desde que ela não se lembrasse daquele ponto. Ah, o ponto distante, a lua perdida no céu, imensa. Imaginou-se pratear-se, mergulhada no gelado que devia ser a emoção lunar.
Deixou-se arrastar por uma melodia mais melodramática e atingiu o fundo. Não tinha medo da profundeza, do escuro, das sombras que se jogavam contra as paredes. A lua estava ali, toda iluminada por um sol distante. Sem luz própria, sem destino certo, era toda composta de sonhos, pequenos fragmentos de esperança.
Vestida de nada, de coisa alguma o que era apropriado para o momento, ela se deixou ficar. Meio triste, meio fugaz, meio metade de tudo o que desejava. Nos olhos, o brilho de uma lágrima teimosa. O roteiro na sua imaginação era muito melhor do que aquele que lhe apresentavam agora. Desperdício de personagens, de luz, cenário, fotografia, de vida.
Tinha certeza de um momento mágico, de tudo se encaixar por alguns minutos, de um resplandecer espantoso. E agora não conseguia renunciar a tudo aquilo sem se importar. Era inevitável, tudo lhe importava porque era dela, era ela, era o que havia se prometido. Portanto, a lua não estava ali à toa, nem as ondas do mar sussurravam por acaso. Tudo fazia parte de um script, de uma longa pesquisa que já lhe roubara noites.
Talvez fosse hora de despedir o diretor, aposentar os atores, decretar falência do estúdio. Tinha pena. Tinha medo. Tinha raiva. Porque todos os recursos investidos estariam perdidos para sempre. Quem pagaria o tempo da lua? Quem lhe devolveria os ingressos já rasgados?
Desistiu da música. Fechou os olhos e deixou que tudo fosse embora porque talvez fosse preciso recomeçar tudo do nada. O nada talvez fosse mais criativo e generoso. Será?

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