sexta-feira, 22 de julho de 2011

UM FIM DE SEMANA PARA SE DESPEDIR

Ela resolveu dar férias ao que já não existia de verdade. Fez as malas e as empilhou na porta de casa. Abarrotadas de recordações, maldições e outras coisas tão desnecessárias. Olhou para aquele arranjo mal sucedido de um dia de adeus. De tanto experimentar e viver cada momento ali arquivado, podia citar um a um com detalhes delicados e alguns sórdidos.
Ela deteve-se no hall do quase esquecimento. Olhou para as paredes desgastadas pelo tempo, pelo vento da indiferença que enfeiava tudo por lá. Não sentir é quase matar as memórias que vivem em outra pessoa.
Resolvida, girou a maçaneta, abriu a porta e deixou o presente carregar a bagagem passada. Não teve tempo para remorsos ou sentimentalismos.
O fim de semana já lhe trazia tudo: horas para perdoar,  rever seus erros e sorrir para algumas colocações tão acertadas. Fazia as pazes com aqueles que não pertenciam mais a sua vida, mas que às vezes ainda assombravam sua mente.
E quando as recordações voaram para as gavetas do passado, ela sorriu. Porque já não a atingiam, apenas tomavam assento em um lugar remoto. Deu as mãos para o que foi bom, mas precisava ir embora. Lentamente foi soltando as mãos, as bençãos, as indagações, os porquês, as falsas esperanças, o medo e o orgulho. A libertação dói no seu momento certo e desperta novas cores no horizonte.
Um fim de semana. Nem um dia a mais. Basta, ela falou enquanto fechava novamente a porta e caminhava para a escada. Subiu os degraus como quem sabe que só há um jeito de seguir em frente: deixar as sombras para trás.

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo, lindo, lindo!
Estilo Else Lasker Schüler.

Lúcia Carvalho disse...

Amei! Quase chorei de tão lindo!