sábado, 20 de abril de 2013

TEMOR

 
De repente, o medo. Não de coisas concretas, bichos rastejantes ou acidentes prestes a acontecer. Medo do desconhecido. Do que não pode nem pretende acontecer. Das rugas no papel do tempo. Do milagre que sempre parece querer existir.
Redes estendo não mais para descansar, mas para me proteger na queda. Facas afio certa de que de alguma forma me cortarei. Tenho tão pouco tempo para montar trincheiras. Então, me afundo nos meus próprios pensamentos. Camuflo minhas dúvidas esperando que me apontem uma nova perspectiva.
Envolta em escuros devaneios, percorro os dias, riscando as chances em uma parede decadente. Se fosse possível atearia fogo em todas as provas que me reduzem a ré. Não visto a culpa porque dela não me aproprio. Nada fiz para que o estranho a mim se opusesse. Nada quis em nome desse poder. Se algemas mereço é por ceder à inocência, por acreditar em veladas felicidades.
De pé, me ponho a certa distância de tudo. O limbo das horas desencantadas, enfrentarei sozinha. Arma em punho, flecha varando  coração e razão. Enxergo o branco tremular, longe, como mais uma promessa. Sinto falta de armadura mais pesada. Tenho os bolsos cheios de pedras e círculos reproduzo nas águas das lembranças. Atiraria em qualquer fantasia que insistisse em voltar. Tiraria a mim mesma da cena para impedir que as linhas do destino se embaralhassem novamente.
Compaixão. De todas as dívidas, esta comigo mesma é a mais alta. Cobro-me tal qual carrasca na hora da morte. Erro sem precedentes. Desculpas mal formuladas. Ajoelho-me em graça e desgraça. Minha cabeça tomba, mas ainda é minha. Nada me será arrancado. Nem mesmo a culpa.
Redesenho minhas possibilidades. Sim, há planos ainda. Há centenas de rotas de fuga. Um amanhecer de oportunidades se estende forrando o esquecimento. Para nivelar minhas chances, desatarei mais esse nó. Quero o temor abaixo dos meus pés. Que seja tremor, vindo de camadas mais profundas. Que seja a despedida de qualquer expectativa. Seja eu, de volta para mim.


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