sábado, 21 de setembro de 2013

AO PRIMEIRO SINAL

Assuma agora que as coisas estão calmas. Vê lá, o mar mal se agita. Ondas  se escondem na profundeza sem fim. É a hora de assentar, de recolher armas e conchas. 
Não perca seu tempo tentando apagar essa mancha aí. Ela não sairá nem com toda reza brava que puder arrancar do seu peito. Só não lhe dê importância porque ela, de fato, não tem a mínima. Deixe-a aí corroendo a madeira passada e apodrecida a discutir mágoas com as algas daninhas.
Posso contar com você agora? Não para me fazer contente, muito menos feliz. Só para cobrir o esquecimento que vem logo depois daquele horizonte. Não preciso de muitas palavras. O seu silêncio já me basta. Dele reconheço o tagarelar da mente, cheia de novas ideias, de novos projetos, de novas felicidades.
Pise na areia e não se preocupe com as pegadas. Elas não permanecerão nem o suficiente. Não o culpo se não puder ficar. Eu sei que é quente e pegajoso  o momento de transição. Tão pouco espero que reaja com bravura ao menor sinal de perigo. Basta que me olhe e sinta o que ainda nem posso dizer.
Não o culparei ser for embora, nem cobrirei seu nome de ameaças. Só quero que assuma o que agora leva o seu timbre. Depois, a gente programa outra vida. 
Ah, eu sei, claro que sei. Não o conheço. Não me conhece. É uma espécie de lenda que nunca chega. Não abraça, não sustenta o diálogo no presente. É personagem do futuro, indecisão de um escritor temperamental. Por isso quero tanto que tome posse do seu papel, que atue como nenhum outro o fez. De verdade, de alma e em doses corporais. 
Eu sei que é pedir muito a um estranho, que nem sequer conheço nome ou rosto. De repente, nem existe. É, eu sei. No sonho, também não pretendia ficar. Será que sonhei mesmo? Ah, deixa pra lá, vamos limpar a areia dos pés e absorver a maresia da expectativa. 
Olha o mar, ainda ali, calmo, infinito em água e futuro. Não é lindo? É todo nosso, sal, areia, em verde esperança. É o começo do que ainda se revelará. Vem, assuma antes que eu me afogue, antes que me falte ar e sonho. Seja esse todo, esse mar em amar. 

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