terça-feira, 3 de setembro de 2013

SE EU PUDESSE ENTRAR...


Vejo as horas acumuladas no canto do dia que há muito se tornou noite. Começam a juntar poeira, suspeito que seja poeira de estrelas. Dos sonhos embrulhados em muitos papéis que revivi. 
Tenho reação alérgica ao tédio das outras semanas, dos meses camuflados no esquecimento. Espirro. Alto o bastante para despertar fantasias e possibilidades. Visto-me de luz como se nada mais existisse na escuridão. Será que posso? 
Encosto corpo e mente na parede fria para fazer a febre baixar. Grau por grau como grãos do que não se pode deter em mim. Depois de derreter argumentos e tudo transformar em lava, reservo o concreto para o amanhã. Não tenho pressa ou medo. O calor me mantém confortável e sonolenta. Entregue, quase sem ação.
Olho para o caminho à frente, o portal que se abre lentamente diante das minhas expectativas. Não tenho como evitá-las, só atenuo sua força sobre mim, vestindo a capa do bom senso. 
O vento parece me empurrar avante chicoteando cabelos e passos. Eu vejo tudo acontecer, pressinto o que ainda está por vi e paraliso. Diante do tudo que experimento por antecedência, me privo. Sucumbo ao sussurro do improvável. Hora de seguir. Hora de se deixar ir. Ah, se eu pudesse entrar...

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