segunda-feira, 6 de agosto de 2012

NÃO ESTOU

Pode bater à vontade. Pode socar a porta que eu não estou contigo e não abro mesmo. Suspendi a lei do silêncio, então até posso permitir gemidos e gritos de dor. Não me incomodarão nem um pouco. As paredes são a prova de som. Deveriam ser a prova de fogo também.
Juro que sinto muito. Muito pouco. Já lavei essas escadarias com minhas lamentações. Aí, eu cansei. Cansei de mim tão pequena e frágil, tão menos do que a realidade. Deixei-me rolar como pedra até que todo o limo se desprendesse de mim. Achei pouco digna essa oferenda em sacrifício de nada.
Repara nos meus olhos. Isso mesmo: secos. Sem lágrimas, sem ilusões marejando minha visão. Eu pisco de vez em quando, mas ainda posso ver a Verdade. E ela é alta, clara e diria que até musculosa. Sim, ela é muito forte e sabe lutar como ninguém mais. De vez em quando ela me dá uma surra, mas quando me vê no chão, mostra-se misericordiosa. Não, eu não odeio a Verdade por mais que ela me agrida nesses momentos de desdobramento romântico. Sou sua amiga e a levo para passear quando estamos de bem. A Verdade mora bem ao lado da temperamental Intuição. Essa eu já não sei se é mesmo confiável ou uma falsa desagradável. Eu a sinto como uma ameaça constante, mas a Verdade sempre me libertará.
Por isso, pode trazer reforços. Pode arrombar a porta. Fazer escândalo ou greve de fome. Tanto faz. Uma vez, eu já estive aqui. Já desenrolei o tapete vermelho e joguei pétalas pelo caminho. Sim, fiz todas essas tolices, sempre escondida da Verdade. Já fui aquela lá. Já morei aqui. Agora não. Repare no silêncio e sinta a ausência. Não estou. Eu sou. 

2 comentários:

Cristina disse...

Olá...gostei muito do seu blog,e da deliciosa maneira como escreve!!!Um grande abraço.

O Despertar das Palavras disse...

Obrigada pelas palavras, Cristina. Seja bem vinda!