terça-feira, 28 de agosto de 2012

A CRIAÇÃO DA PAIXÃO

Duvidavam dela. Isso estava claro. No entanto, ela sabia que tinha razão. Pelo menos, para ela, parecia tudo bem razoável. Podia perceber o furacão se formar no horizonte. Toda a energia subindo e descendo pelas suas veias. A terra começava a tremer um pouco também. Ninguém mais podia sentir isso?
As cores mesclavam-se nas nuvens. Brincavam confusas com o furor que já se previa. Um belo espetáculo visto de fora. Por dentro, um misto de dor de quem chega ao mundo e de quem se despede dele. O inusitado momento de cortar, de desatar os nós da segurança, de soltar o barco a sua própria sorte.
Era agora, aquele instante quando tudo explodia. E do buraco negro surgia o mundo tal como ela já conhecia. Tudo exposto nos tons mais fortes e modelado em formas quase primitivas. Havia a aspereza do novo que lhe arranhava a face e outras partes do seu corpo.
Ela sabia que fora responsável também por isso. Escolhera pessoalmente as músicas que tocariam, o cenário que abraçaria toda a obra, os primeiros diálogos que ensaiaria com o protagonista. Tinha provocado a enchente, certa de que conseguiria controlá-la com facilidade. Mas não podia. Ninguém domina a paixão. Nem mesmo ela.


2 comentários:

Agenor disse...

Muito bonita. Parecida com você.

Ana Silva disse...

O incontrolável sem surpreende. Mas,esta é a delícia da vida!