sábado, 11 de maio de 2013

A MÃE SOU EU

Mulheres sorriem e relembram o dia mais feliz de suas vidas. Ostentam alianças, brilhantes e fotos. Muitas se dizem assim felizes a partir daquele dia, o enlace do casamento, ou do pedido, ou do primeiro beijo. 
Saliento que comigo não é assim. Ah, sim, já amei. Dediquei meus dias e noites a amores honestos e outros nem tanto. No entanto,  sei de cor o dia que ficou pra sempre marcado como o mais feliz da minha vida. Não era nem dia, era madrugada. Vinte e cinco minutos de uma nova data, passada a meia noite, era tudo luz e amor. 
Ela nasceu, envolvida em uma luz suave, sob o respeitoso tom dos que ali assistiam a sua chegada. Tudo tão rápido porque ausente eu estava daquele plano. Todo o meu ser recusava-se a se desligar do corpo e alma que se abrigavam ainda em mim. Então, permanecemos unidas, entrelaçadas em fios e laços de dominantes sentimentos.
Nascia ali uma filha, renascia a mulher.  Eu já não era filha de uma mulher. Não mais pronunciava essa palavra "mãe". Por anos, desejara que a saga continuasse. Intuindo em sonhos, sapatinhos cor de rosa, borboletas e flores. 
Ali estava a felicidade embrulhada em camadas de ternura, liberta da placenta das expectativas. Minha, não por posse. Minha por ser o meu corpo a sua origem. 
Tive certeza de que só se repetia o que sempre soubera. O amor chegava de repente, mas estava ali o tempo todo. Mergulhado nas ondas do destino, nas espumas do desejo, era o sal da terra. 
Então, hoje como todos os dias, sei a resposta. Meu dia mais feliz foi aquele que se desenvolveu em leite, beijos, abraços, cuidados, medos e erros. 
Olho-me sem espelho. Vejo-me nos olhos que sorriem, refletida em mil sonhos. Sou eu. A mãe aqui agora sou eu. 

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