quinta-feira, 23 de maio de 2013

O CICLO

Esperava que tudo se resolvesse por si só como mágica. Que o desfecho fosse orquestrado pelo destino, que caísse suave como neve sobre suas cabeças. Ao invés disso, surgiram tornados e avalanches acumulando destroços em dias tão azuis. Destruição não escolhe dias nublados para acontecer. Ela vem e ataca nos flancos do inesperado momento.
Dominadora sensação de por tudo a perder, de errar a aposta, de entornar a caldeira toda. Decerto as mãos tremiam pelo peso da responsabilidade. Tudo em seu nome, desejo e risco. 
Pressa de alterar a rota. Mudança de planos de última hora. Que fosse então a última vez. Que acontecesse no espaço de tempo que pretendia alcançar. Dúbio turbilhão de intuição e caos. Razão enclausurada no vão dos senãos. 
Na véspera, surgira a alegria súbita. Uma atenção maior às estrelas que lhe traziam notícias. Dormir estava fora de questão. Necessitava estar alerta para libertar o que lhe vinha ao peito, arranhando certezas e palpitando esperanças. Queria tudo novo com todas as possibilidades borbulhantes de um recomeço. 
Trêmula, ofegante, sedenta. Passos descompassados, perdidos, em desalinho com o querer. Uma rota de fuga era tudo o que queria. Só isso. Fugir dali, dos seus próprios sonhos que lhe subiam pelas veias e alcançavam oceanos mais profundos. 
Era hora. Toda. Inteira, rodopiando sem nexo, derrapando expectativas. Faíscas de um despertar tardio, lento e recomeçado. Anúncio do novo. Corte inaugurando vida.

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