sexta-feira, 3 de maio de 2013

BUTTERFLY ORIGAMI

Aliso meus papéis tentando escolher um. Somente um que me vista de forma adequada para o momento. Há de ser o mais encorpado, o mais resistente, o menos amassado. Flexível feixe de papiro, adornado com delicadas fibras. Minhas fibras, redobradas tentativas de fortaleza. 
Sinto a textura do material que não quero mais reciclar. Terá seu destino ignorado por mim. Vista-me com a facilidade de um sorriso. Raspe de mim todo relevo mal empregado. Deixe-se moldar nas depressões sucessivas. Nivele, preencha, supere as falhas. Na palma da mão se crie.
Dobro-me diante das evidências. Em leque, deixo todos os sentimentos abertos. Cortes, feridas, arranhões. Não mancho, não maculo, não tinjo. Atingida sou por uma gama imensa de sensações. Desta vez, peso grama a grama as decisões. Quero apresentar o melhor, o mais sofisticado padrão, mas nada parece se adaptar as minhas expectativas. Não há qualidade nesses pedaços picados. Uma longa folha estende-se branca e sem história. 
Recomeço, aliso, dobro, friso, adorno. Repasso dedos e olhos. Acentuo linhas, igualo lados, contemplo efeitos. Sinto o papel amolecer, umedecer sob minhas mãos. Reconheço minhas próprias lágrimas e expulso todas dali. Não é a hora delas. Retomo ao trabalho, lento e minucioso processo. Concebo asas, liberdade esmagada que se abre em lóbulos estranhos. Eu sei, repito muitas vezes para mim mesma. Sei das asas, sei do voo, sei de mim. 
Termino. Revejo detalhes por curiosidade e apego. Deposito sobre o fundo colorido. Contraste e dor. Não há de ficar para sempre. É assim. Sou assim. Metamorfose em floração, borboleta em transformação. 
 

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