quarta-feira, 29 de maio de 2013

VINDO DO MAR

A areia massageava seus pés. Grãos multiplicados por milhões a lhe ceder solo e conforto. Como estrelas submersas na realidade. Porções de esperanças iluminando caminhos desconhecidos.
O vento desmanchava cabelos e sonhos. Antes suave brisa, agora chicoteava verdades. Estalava implacável a vontade alheia a ela. Distante dela. Ausente e sem voz. 
Promessas enferrujavam lentamente, molhadas, salgadas, quase esquecidas. Ondas balançavam certezas, vazando a impossibilidade do momento. Espuma a limpar suas lágrimas postas e repostas, no vai e vem de uma canção oculta. 
Oferendas surgiam, devolvidas à praia, desprezadas pelos deuses. Suas intenções, sua esperança, o querer fazer bem aquele que mal reconhecia. Quebrados sentimentos, estraçalhados contra as rochas. Mãos enrugadas pelo molhar constante em busca da benção dos oceanos. 
Ela olhou novamente para o horizonte turvo. O encontro do céu com o mar. O encontro que tanto desejava. Inteiros que se encostavam, sem se misturar, só permaneciam unidos. Selados, prometidos e assim cumpridos. Azuis, cinzas e verdes mesclados em total harmonia. 
Onde estava ele? Embarcações reunidas em alto mar. Velas mais além, balançando cores no fundo azul profundo. E ele sem volta. Nem hoje, nem no próximo suspiro. Que a presença concreta fosse, ela teria talvez medo. Sendo ausência, perecia nela como entardecer. 
Esperaria por mais dois dias ou três. Tomaria fôlego e abriria espaço para mais uma jornada. Quando a maresia a deixasse tonta, colheria conchas e perdoaria. A si mesma, talvez, por desejar tanto poder ficar.

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