domingo, 26 de maio de 2013

BRAÇOS CRUZADOS

Teria algum tempo antes de escolher. Pouco tempo, na verdade. Conversa de minutos, palavras estendidas como um tapete surrado pelas chuvas. Melhor calar. Mas quando o silêncio vem, pesa, condensa, traz consigo a instabilidade das possibilidades. Nada é mais mutável do que uma pausa, uma brecha rasgada no turbilhão de pensamentos. 
Rabiscou estrelas e setas. Certa de que nada mais lhe pertencia naquele momento. As imagens surgiam e mergulhavam lentamente em mornas perspectivas. Distâncias trilhadas só pelo querer. Poças brotando na imensidão do segundo seguinte.
Imaginou encontros. Criou romances. Rascunhou diálogos longos em três dimensões. Rasgou tudo e recomeçou a tentar. Não havia ainda encontrado a chave. Como abrir a porta e sair dali? O silêncio, cárcere de sonhos. 
Braços fortes. Braços que deviam cercar e proteger. No entanto, só prendiam. Ao nada, conduziam. Ruído de brutalidade. Afinal, se revelava. O poder, sempre o poder, a conduzir antes o desejo. O que vem depois contamina-se com a ferrugem dos grilhões.  
Tudo perdido, arrastado pelas águas da precipitação. Lama corrente maculando corredores e sonhos. Cansada de tanto nadar, mergulhou. E nada, enxergou. O lodo pesado envolveu seu cansaço. Sofreu escuridão para poder enfim ser livre. Ilusões não sobrevivem. Missões terminam. Sensações dominam. Naqueles braços, nunca mais. 

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