Seria preciso muito mais do que um porto para segurá-la ali. Não acreditava em amarra alguma. Âncoras não detinham o destino. Cais não era o berço de suas expectativas.
Havia muito mais do que as ondas batendo com violência na encosta. Sobre as rochas, sangravam areia e sal. Partículas diminutas de tudo o que trazia no peito e na alma.
Não estabelecera descanso entre as marés e luas que se desfaziam. Rasgara as vestes. Ateara fogo nas promessas bordadas em papel e vento. Arrancara as flores de seus cabelos, uma a uma. Desta vez, sem temer, ainda com lágrimas brilhando nos olhos, alcançou pedra e punhal.
De longe, surgia como temporal, tormenta violenta a sacudir mares e lares. Se preciso fosse, quebraria. Se a impedissem, cortaria. Se ela mesma temesse, mutilaria dor e medo. Não permitiria erros, nem deles, nem seus.
Mãos ardendo, fechadas, unhas machucando carne e sonhos. Gritavam seu nome, ela se fez surda. A coragem dominava sua figura em chamas, despida de razão, ornada de colares e dores. Estrelas tingiam seus cabelos de todas as cores.
Pedra e punhal. Lutaria até destruir de vez cada inimigo que a atingisse. Recusava ofertas de paz. Não estava lá para acatar apelos. Aquilo custaria caro, mas não a ela. Não pagaria mais nada. Já se cansara do jogo, do momento desperdiçado sob a proteção de senhores.
Agora, seguiria sozinha, em passos livres, quase em corrida ascensão. Queria alcançar. Queria agora. Em fogo, abraçar a vida.
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