domingo, 17 de junho de 2012

O ANEL

Ana sonhava acordada. Tinha lá os seus motivos para isso. Não revelava a ninguém o que seus olhos teimavam em exibir. Estava apaixonada. Sim, loucamente apaixonada. Era difícil silenciar a gritaria do seu coração, que batia freneticamente no descompasso do momento. Não tinha certeza de nada e por isso sorria sem o peso do compromisso com a verdade.
Na ponta do sonho, rolava o objeto esférico, oco, brilhante. Ela correu para apanhá-lo antes que tombasse na fatalidade da realidade. Suas mãos acolheram a jóia com carinho de amante. Reluzia e ao mesmo tempo parecia querer sumir. O contato frio do metal desestabilizou as esperanças da menina. Ah, quantos sonhos havia perdido nesse mágico segundo de entrega? Os dedos se fecharam devorando o anel e todos os pensamentos que transbordavam dali.
Por ser apaixonada, Ana não acreditava em prisão. Não havia sentido em aprisionar o soluço da vida. Abriu a mão e contemplou o ouro em sua palma. Curiosa, deixou seus olhos pairarem nas linhas metálicas em busca de detalhes sutis que ainda não descobrira. E lá estava, camuflado na camada interior, escrito em letra caprichada, cravado, grafado, esculpido em ouro. Suspirou como que aliviada e espantada. Leu como quem reza em adoração, o nome dele, a alma dela: Armando.

Nenhum comentário: