quinta-feira, 7 de junho de 2012

O REBENTAR DAS ONDAS


Olhando o mar, Clara percebeu que sua vida era tudo aquilo também. Alguns dias, era apenas um oceano profundo e aparentemente tranquilo, por onde navegavam singelos veleiros brancos formando uma paisagem de pintura ingenua. Outros dias, as águas ganhavam fúria repentina e se projetavam com violência contra pedras, areia e tudo o que alcançasse.
E aquele era um dia desses, quando ela se sentia chicoteada por emoções molhadas, salgadas e geladas. Tudo  vinha à garganta como ondas que antes passavam pelo seu coração desfazendo-se na areia dos sentimentos.  
Por onde estariam os salva-vidas? Longe demais para resgatar sua paz. Mas ela queria mesmo a paz? As águas tranquilas de um final de tarde, dominical e santo? Cataria conchas na beira do mar cantando melodias inocentes?
A impossibilidade de um oceano raso e seguro. A constante batalha entre água e terra, o espumar raivoso do mar sobre o leito arenoso e o balanço magnífico da natureza. Tudo beleza selvagem, indomável e por isso, tão irresistível.
Então, Clara perguntou-se o quanto daquilo era real e válido. O quanto daquilo ela queria realmente para sua vida. Ela possuía uma escolha? Poderia optar por um lago plácido? Por vezes, sentiu-se tão exausta de tantas emoções, de tantos bailes noturnos com personagens fugazes e do esgotar inerente a qualquer entrega.
Suas lágrimas secavam com a maresia e mesmo assim as respostam não vinham. O que restava era sempre a dúvida. Por que continuar insistindo em alcançar o tesouro dentro do furacão? Não seria mais fácil desistir como fizeram suas amigas mais experientes? Largar mão dos sonhos, dos ideais de uma colheita feliz? Mas ela não podia. Não podia repetir o mesmo discurso pessimista como uma carola chorosa. Não, esse não devia ser o seu papel no teatro da vida. Tinha de ser algo mais, muito mais.
Debruçou-se na mureta e observou mais uma vez o rebentar das ondas. Era um espetáculo, sem dúvida. Ora perigoso, ora tão ritmado como uma valsa. Era vida e isso não se podia negar. Então, ela descobriu. Queria aquilo. Queria o sacudir das águas emocionais, o naufragar do medo e  o estranho vaguear do destino. Mesmo que tudo fosse louco, atormentado e muito doloroso às vezes. Pelo menos era mar, oceano imenso e não água parada sujeita a mosquitos. Era forte e intensa  como a explosão das ondas contra as pedras tão sensatas e imóveis. Podia tudo, desde que se mantivesse fiel a sua natureza de água, sal e areia. Tudo!


Um comentário:

Ana Silva disse...

Estou me sentindo assim mesmo...água sal e areia...embora seja Anna e não Clara.