quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

MORDIDAS EM VÃO

Domino o espaço que me cabe entre a tua pele e minha ambição. Não me incomodo com os limites traçados pelo abandono já anunciado. Há centenas de poros esperando pela minha invasão. Eu exploro todos os sentidos e começo logo pelo paladar. Minha missão alcança o sucesso na ponta da língua. 
Aventuro-me sem muito pensar. Em dentadas contínuas e agudas. Sobremesa posta à prova em pratos nem tão limpos assim. Esbarro nos teus sabores reinaugurados. Reinicio o ciclo. Quero degustar teu desejo lentamente como doce derramado por colher de prata.
Dispara o alarme. Sinto luzes pelo corredor dos meus pensamentos. Queria muito que o momento aguardado chegasse na mesma hora em que teus pedidos são abandonados. Resgataria um por um, agarraria as certezas e arranharia qualquer ameaça. Presas, armas oferecidas ao teu combate.
Atravesso tua epiderme tal como posso. Sou toda areia, suor, sangue e sal. Elementos misturados que abocanham a noite. Mastigo as ideias erradas que surgem de repente. Tento arrancar a força que me faz parar de sentir. Ainda ouço os dentes baterem, os lábios apertarem-se em quase desespero.
Sinto a acidez das tuas palavras corroer o esmalte dos meus dentes. Reservo-me o prazer dos músculos trabalhados na mastigação. Em silêncio, aprovo o atrito das cerdas nem sempre macias do teu querer. A porosidade não chega a me atingir. Preencho todos os espaços com dúvidas e conclusões apressadas. Eu sei, há muito açúcar nessa composição. Há de se esperar limpeza da superfície dos sentimentos. Que a razão enxague até sentir alívio pelo aroma provocado pela tua presença.
Tenho pouco tempo para tudo o que mereço digerir de ti. Então, pode ser apenas fome. Somente a metade do que te proponho alimentar. E pode ser, sim, tudo em vão.


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