quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

NÃO ME DIRIJO AO REI

Pichei o muro. Não de verdade. Apenas de forma simbólica e um tanto descoordenada. Há em mim uma anarquia entranhada que não responde ao eco dos acontecimentos. Faz um resumo dos tempos e descarta os caroços sem valia.
Há tanto caminho a percorrer neste ciclo que recomeça. Ciclo que não acabou porque se iniciou no esquecimento. É preciso que se ignore a trajetória vez ou outra para que as pedras não arranhem o cristal dos sonhos.
Mesmo que sejam impérios o que o destino me apresenta, reduzo tudo ao mastigar o seu valor. Não mereceria maior espaço dentro desse universo encantado. Os dias pulando os muros do passado, todos aqueles que eu não pichei. Pontes unindo o verossímil ao inexplicável.
Percorro esta estrada com menos sabedoria do que deveria. O barro do desejo primário contamina meus passos. Minhas raízes entrelaçam-se em beijos e flores.
Vejo pessoas acenando, mas não para mim. Acenam freneticamente para outros que virão e ficarão. Eu não ficarei. Não tenho permissão de parada. Minha alma ainda não atingiu porto ou morada. Meus pés desconhecem futuro ou o que lhe pertença.
Reis e rainhas surgem do nada. Altivos em suas posições de destaque. Ignoro sua majestade. Ignoro qualquer coroa ou cetro. Nada disso faz parte do meu percurso. Nem o manto, nem o santo. Continuo plebeia e colho as flores que me oferecem. Amarelas, vibrantes como o dia que inaugurou o instante. Rebelde e ainda assim centrada. Não falo, não tusso para chamar a atenção. Meus olhos denunciam o desdém. Vibro com a plateia admirada. Dirijo-me aos poucos que me vêem . Mas não ao rei.


Um comentário:

Ana Silva disse...

Ufa!!Achei q vc tinha realmente pixado o muro.Um novo ciclo está sendo iniciado para mim.