sexta-feira, 2 de agosto de 2013

PRONTA


A sensação de dominar a cena. Em meio a um espetáculo de luzes e cores, ela sentou-se na ponta do palco. Balançou pernas deixando os calcanhares baterem desobedientes. A peça poderia acabar, os atores emudecerem, a cortina fechar.
Dali, ela percebia o mundo, a plateia que a fitava em espanto silencioso. Eram suas próprias expectativas buscando aprovação. Mas ela continuava lá, sentada em pleno abismo, aguardando a deixa. Não tardaria. Não a decepcionaria. Sua vez já estava  ali marcada para acontecer.
Reprisou mentalmente todas as cenas, argumentando com personagens fictícios ou não. Seus lábios se moviam em trêmula prece. Que fosse logo, que fosse hoje, que fosse agora. 
Enquanto os outros, atores, figurantes e inexistentes procuravam manter a trama, aumentando ritmo e volume de falas, ela ali permanecia. Como desalinho do constante, empecilho do previsto e estudado. Um ponto destoante, pregado ali no instante errado. Ameaça de corte, de loucura, de tantos nãos. Ela mantinha pés em batida, cabeça erguida. 
Dominava a plateia com aquele sorriso de desconcentrar multidões. O sucesso já lhe beijava. A trama  poderia acabar ali, os personagens abandonarem a cena ou a cortina se fechar. Ela ali permaneceria, a balançar pernas e sentidos. Entre aplausos ou vaias. Era antes de tudo, mais feliz do que o mundo, pois o amanhã lhe pertencia. 

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