sábado, 10 de agosto de 2013

SEM RAÍZES


Arrancaria raiz se assim poupasse tempestade e treva. Folhas de todas as cores espalhadas pelo solo. Pisoteadas em febril decisão. Algumas verdes de esperança desperdiçada. Outras tantas tingidas com o cobre pesado das desilusões. Havia vermelho de uma paixão ali varrida e distante. Sem seiva, a multiplicação de quedas era apenas desculpa mal dada pela natureza. Tudo fenecia, perecia como promessa quebrada.
Recolher flores já não podia. Elas já pousavam em cabeças ungidas de juventude. Grinaldas ou coroas que embelezavam anjos e fadas. Alheia novidade, em vasos também presente. De colorida somente a morte que recobria raízes e terra. Bela anarquia de elementos a caminho da podridão.
O tronco firme a lhe servir de apoio às costas que pediam descanso. Era tão exaustivo seguir avante quando tudo parecia murchar em desatenção. Era tão triste descobrir vala onde se esperava girassol. Afundou os pés naquilo que lhe parecia toda sorte de lama. Em lágrimas, fez-se irrigação. 
Queria ela própria enraizar-se, perder o contato com o móvel, desistir de todas aquelas trilhas adiante. Ficaria ali se pudesse, fixa, até ser absorvida por madeira e medo. Seu sangue seguiria nos veios daquela árvore. Cortaria desejos para se alimentar do impossível. Se pudesse, assim o faria. Só que não podia. Não pertencia àquela floresta, não era aquela a sua natureza. 
Retirou pés com cuidado e respeito. Não desejava deixar pegadas ou marcas. Que se permitisse ser esquecida. Porque devia ser. E seria...

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