quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

MEU CORAÇÃO TEM FOME

Afundo o rosto no travesseiro como se mergulhasse em outra dimensão. Teria mais chance de nada sentir se me transformasse em personagem, em lenda, em qualquer coisa que não me tornasse tão humana.
Cacos dos meus pensamentos juntam-se no mosaico interminável da saudade. Tenho pressa de quem deseja e paciência de quem sabe amar. Remonto quebra-cabeças só para parecer indiferente ao tempo que escolhe passar devagar. Leva, com ele, acorrentado querer.
Sempre e nunca misturam-se na bacia das impossibilidades. Tenho as mãos feridas de tanto golpear a porta dos acontecimentos. Reclamo, aflita, por mais do que nem devia provar. Não há proibições quando diviso fato e sonho. Nem tão pouco a aguardada permissão para que o delírio se descongele em poças de prazer.
Há fome de todos os tipos sobre a mesa. Apetites gigantes que acompanham olhar, cobiça e alegria. Migalhas nem são desprezadas. Acumulam-se feito expectativas de noites mal dormidas. Pratos lascados, copos manchados de batom, talheres jogados como armas inúteis após o combate. A toalha rendada de beijos cobre todo o medo, toda a ausência, toda a possível culpa. Cai sobre mim como céu estrelado de promessas.
E o coração bate, ansioso, temeroso de que não chegue nunca o momento. Transmite sinais estranhos a qualquer ser, em qualquer língua desconhecida. Frágil e guerreiro. Voraz e estrangeiro. Pelo sentimento esticado ao sol, bate, palpita, dispara em direção desconhecida. Tem pressa. Tem alma. Tem fome. De você.
 

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