quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

SE A CHUVA VIER....



Nuvens ameaçavam fazer a noite molhada e surda. Promessas de um recolhimento já não tão necessário assim. Lençóis revirados anunciando uma desordem contínua. Os pensamentos reunidos em um canto esperando o melhor momento de dar um basta na torrente de emoções. Por onde ela deveria começar?
Retirou o pó da mesa como quem espera que brotem fadas e duendes. Esfregou as paredes para ver se o esquecimento alvejava a tinta gasta. Limpou, lustrou, encerou os móveis e também os imóveis espalhados pela sua vida. Tinha pouca pressa na limpeza. Havia muita ausência espalhada pelos cantos. Se espirrasse agora, expulsaria a falta de notícias? Ou será que era o acúmulo de novidades que a deixava assim tão perdida entre os pensamentos?
A música também não ajudava. Estava convicta de que suas emoções reagiam às melodias ouvidas. Coisa de gente doida, diria sua tia. Mas era assim que funcionava: uma canção romântica puxava a princesa à espera do cavalheiro que viraria sapo de tempos em tempos. Um rock pesado talvez a mantivesse longe daquela bruma entorpecente lá adiante. Preferiu o silêncio e tudo o que  pôde ouvir  foi seu próprio suspiro. Não era aflição nem agonia. Era apenas o vazio ganhando forma e som.
A chuva começou a cair, devagar como a querer silenciar e flagrar um amante. Depois, perdendo a paciência com as delicadezas do porvir, adentrou a noite chicoteando os telhados e lavando o solo pisado do dia.



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