sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

PASSARÁ



Não sabia qual era a dor maior: do ventre rasgado em tiras de promessas ou da ilusão transformada em pó. Tudo misturado, tudo salpicado com o sal das lágrimas. Não era seu aquele sangue. Não eram mais as ondas do sonho por onde tantos dias havia navegado. Apenas reflexos de um pesadelo que teimava em se estender sobre a cama, sobre o seu corpo, sobre os lençóis das emoções.
De tanto sonhar, gerou mais minutos. De tanto querer, cultivou campos inteiros de esperança. Arrastou correntes demais que araram solo sem consolo. Semeou medos e anseios insanos.
A verdade arremessou seus sentimentos contra paredes de concreto puro. Arranhados, pele e ossos sucumbiram à realidade apresentada. Queria sumir. Queria mesmo morrer. Mas não morria.
Decidiu queimar seus planos mais queridos, aqueles elaborados em rendas de açúcar. Aconchegou-se no calor produzido de suas cinzas. Sentiu o gosto de água e fênix em seus lábios.
Cega, surda e quase muda, percorreu os corredores do desespero, arrastada pelos sentidos mais profundos. Não era a sua vontade. Não era a sua razão. Mas era a Vida e dela não se corre, não se nega, não se tem licença. Não se baixa a cabeça perante os desígnios das batidas do coração.
A música fez-se ouvir, como hino vagaroso que aos poucos dominava a histeria do momento. Depois, notas tornaram-se orações sussurradas. Mãos foram estendidas, abraços dados, choro compartilhado. Diante da herança recebida, da luz concebida em segredo, ela não pôde mais se conter. Arremessou-se como estrela ao céu do presente que se desembrulhava sem garantias. Fechou os olhos e experimentou o eco dos seus próprios saberes. Então uma voz ao longe disse: Não prometo a felicidade instantânea. Nem a ignorância do sofrimento. Prometo apenas, amiga, que a dor vai passar.

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