quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

NA ESTAÇÃO

Esperou o trem com a certeza de que deveria perdê-lo novamente. Já conhecia aqueles vagões e suas cargas. Os passageiros não eram mais estranhos. Eram personagens ensaiados, exaustos e ansiosos por mais uma encenação.
O apito fez-se ouvir. Por ora, distante, aproximando-se em desafio. O ruído crescente das engrenagens em movimento. A vida correndo sobre os trilhos do destino.
Ela olhou as horas no relógio. Era tarde demais para qualquer arrependimento. Seus olhos julgavam o momento inadequado. Piscou buscando o silêncio no vão escuro dos acontecimentos.
O trem vagarou-se. Estancou hesitante e quase silencioso. Passageiros desceram, apressados, tropeçando nos próprios pensamentos. Cegos ou insignificantes em suas procuras. Cumprimentos multiplicando-se na fumaça da manhã estendida.
A moça sentiu um indecente desejo de ali ficar. Queria estar nua, desprovida de qualquer sentido social ou moral. Queria ter somente o amor como vestimenta, manto sagrado que perdoaria tudo.
Os vagões foram assim esvaziados. A impaciência de toda uma viagem esgotava-se ali inerte em uma estação. Era outono e ainda chovia. Desejava flores ou pelo menos, poder dançar na chuva fresca.
A inconveniência do trato social e os olhares intolerantes a fizeram barrar seus impulsos. Então, ela o viu mais adiante. Perdido em pensamentos difusos. Tocaram-se com apenas um olhar. Prometeram-se toda a sorte de futuros. Estavam ali, onde sempre souberam que seria o ponto de chegada.


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