quinta-feira, 25 de julho de 2013

ACONCHEGO


Ruas alagadas de pessoas com as mãos nos bolsos. Casacos fazendo as vezes de outras acolhidas. Rostos cruzando-se sem reconhecimento. O frio empurrando todos para casa, para o aconchego de um suposto lar. 
Há os que realmente possuem um porto, um ninho, um lugar de chegada aguardada. Há outros que desfilam impacientes para destino ignorado. Braços cruzados que deveriam não mais guardar segredos e sim paz compartilhada.
O frio pressiona de dentro pra fora, provocando abraços já há muito tempo esquecidos no fundo de um armário. Espantados bolor e timidez, entrelaçados sentimentos reproduzem calor imediato.  Em vão, ainda há resguardo de sentidos e aptidões. Depois de cruzadas as barreiras, nada se faz tão urgente quanto a proximidade. 
Mãos demoram mais para se largar. Beijos se repetem sem argumentos de despedida. Hora de hibernar individualidades. Vento soprando para longe solidão e egoísmo. Há mais para se compartilhar, multiplicar em doses suficientes para se embriagar de amor. Procura-se par, ímpar, o que puder completar o jogo, o tabuleiro das intenções e emoções. 
Animais buscam instintivamente por abrigo. Procuram amparo, alívio para fome, sede e frio. Há em toda a natureza, redenção ao fogo, ao calor que se espalha sem explicação. Normal, natural, esperado encontro.
Noites frias pedem sopa e afinidade. Vontade de superar obstáculos e aceitar o outro. Querer a companhia do amigo e o ficar do hóspede. Acreditar nas histórias contadas em volta da fogueira. Afogar frio e vazio em vinho. Correr, rir, juntar mãos e canções. Adormecer aquecidos corpo e coração. 

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